tag:blogger.com,1999:blog-14096364505492067362024-03-04T20:31:21.200-08:00Cultura e DiversidadeBernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.comBlogger30125tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-39145884453096496292013-03-29T09:57:00.001-07:002013-03-29T09:57:19.594-07:00OS PSEUDO-ARGUMENTOS UTILIZADOS POR QUEM É CONTRA O CASAMENTO CIVIL HOMOSSEXUAL<div style="text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2hIezzZFzppGYgF86m7tLZuh0qNA400rZuUnVYDKJeiLNe5itH73r_0-jXWeYD_P9Fy1iREke14JW04cvhL4bX1LuOjCIW5I3i5MTeoheFc8nFqubJj8RpBP7XVoZNgpTITXPbnwygEPq/s1600/casamento-gay2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2hIezzZFzppGYgF86m7tLZuh0qNA400rZuUnVYDKJeiLNe5itH73r_0-jXWeYD_P9Fy1iREke14JW04cvhL4bX1LuOjCIW5I3i5MTeoheFc8nFqubJj8RpBP7XVoZNgpTITXPbnwygEPq/s400/casamento-gay2.jpg" width="400" /></a></div>
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1- A HOMOSSEXUALIDADE NÃO É NATURAL.<br />
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Primeiramente, o que é natural? Em um sentido básico natural é aquilo que vem da natureza, que é próprio dela e que é regido pelas leis naturais. O ser humano é uma construção antropológica complexa que engloba o natural e o cultural. Somos os únicos animais que utilizamos roupas para nos cobrirmos, algo que não é natural, mas cultural. Assim que nascemos - nus - nosso cordão umbilical é cortado e colocam-nos uma toalha, logo depois uma vestimenta. A partir de tal episódio, imiscuir-se a cultura à natureza.<br />
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Outros exemplos clássicos de como a nossa cultura interfere no nosso modo de vida, afastando-nos de um caráter "natural" ou simplesmente ratificando o fato de sermos uma mescla entre o cultural e o natural, é o fato de nos depilarmos. Nenhum outro animal se depila. Da mesma forma não existe distinção - a não ser a biológica - entre machos e fêmeas em uma espécie. O que leva a mulher a depilar as axilas e o homem, em muitos casos, a deixá-la intacta, engloba dois conceitos culturais: a depilação e a DISTINÇÃO entre o que se convencionou ser culturalmente feminino e culturalmente masculino.<br />
<br />
Agora, gostaria de introduzir um novo conceito: o que é comum e o que não é comum e como, ao falarmos de "é natural" e "não é natural" estamos muito mais próximos de um julgamento CULTURAL do que é comum e não é comum para uma determinada sociedade do que de um julgamento natural. Na verdade, não existe julgamento natural algum ao usarmos o termo "natural" ou "antinatural", uma vez que qualquer coisa que advenha DA NATUREZA é natural, ainda que possa parecer INCOMUM para o nosso julgamento CULTURAL, como, por exemplo, algumas mutações ou grandes catástrofes.<br />
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Peguemos dois exemplos triviais: uma mulher pintar o cabelo de loiro e depois de rosa. No primeiro caso, dificilmente alguém julgará tal mulher da seguinte maneira: não é natural. Não estou colocando aqui o conceito de ARTIFICIALIDADE que é uma acepção CULTURAL, mas sim o entendimento do que é ser NATURAL. Do ponto de vista cultural, ela poderá ser julgada sob o aspecto de que a cor do cabelo não é verossímil à cor original (natural) do cabelo. Mas a ação em si - o de pintar o cabelo de loiro - não será julgada como sendo "antinatural", apesar de ser, uma vez que naturalmente essa moça não possui cabelos daquela cor. O que se julga em questão, nesse primeiro caso, é se os RESULTADOS da ação serão considerados naturais ou artificiais. E por quê? Porque, em nossa sociedade, o fato de uma mulher pintar o cabelo é considerado "natural", donde natural é sinônimo de COMUM CULTURALMENTE e não de algo que provém da natureza. O segundo caso, no entanto, vai gerar mais discussões. Alguns, inclusive, falarão, ANTES DO RESULTADO, que "não é algo natural". Ora, o fato de pintar o cabelo não é algo natural em sua essência, mas o loiro, além de ser encontrado em algumas pessoas originalmente (naturalmente) e o rosa são, é muito mais COMUM. Quantas mulheres pintam o cabelo de loiro e quantas pintam de rosa? Dessa forma o conceito de natural passa pelo critério de ARTIFICIALIDADE - se se parece ou não com algo verdadeiro, original, da natureza - e pelo conceito do comum (se é algo frequente ou recorrente em nossa sociedade). Mas, deixando os conceitos culturais de lado, pintar o cabelo não é natural, simplesmente por utilizar manipulações químicas e intervenções que não estariam presentes sem a intervenção do homem. A única forma genuinamente natural de alterar a cor dos cabelos é pegar horas e horas de sol.<br />
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Continuando com o exemplo acima, mas alterando o sexo percebemos com mais clareza como o conceito de natural misturou-se ao conceito cultural do que é comum ou não e do que é aceito ou não por uma dada cultura. Um homem, ao pintar o cabelo de loiro, possivelmente enfrentará muito mais resistência que uma mulher. Em caso desse cara lidar com pessoas mais preconceituosas, comumente ele ouvirá a frase "Não é natural um homem pintar o cabelo de loiro". Ora, mas se a mulher pode e, caso os resultados não sejam considerados artificiais pela maioria, dificilmente alguém a julgará, por que um homem não pode fazer o mesmo? Fica claro, mais uma vez, que o conceito nada tem a ver com natural de natureza, mas de comum ou não comum ou daquilo que a maior parte da sociedade aceita ou não aceita. Mas, quando se usa a desculpa de que é antinatural, parece que não existe um julgamento cultural preconceituoso, mas tão somente uma condição da natureza, donde podemos separar, sem interferências culturais, o que é natural daquilo que não é. Mas, como já foi mostrando aqui, em todos os casos pintar o cabelo ou se depilar não é algo natural. É comum ou não comum. É um julgamento valorativo de acordo com o que é comum ou não de acordo com uma determinada sociedade. Não há nenhum julgamento natural e se assim seguíssemos nossas vidas, deixaríamos de nos vestir, de pintar o cabelo e de nos depilarmos, pois tudo isso é antinatural.<br />
<br />
No caso da homossexualidade, o que parece mais estranho é o fato de - ao contrário de pintar o cabelo, depilar-se ou vestir-se - existem muitas espécies de animais que praticam sexo homossexual ou que tem comportamento homossexual. Logo, nesse aspecto, a homossexualidade seria muito mais natural do que pintar o cabelo, depilar-se, vestir-se. Aliás, partindo do pressuposto de que a homossexualidade não é algo inventado pelo homem, percebe-se com mais clareza o fato de que a sociedade julga o natural e o não natural sob um aspecto do que é comum ou não e pior do que é MORALMENTE aceito ou não.<br />
<br />
Dessa forma, não cabe o argumento de que a homossexualidade é algo errado, porque é antinatural, uma vez que foi demonstrado aqui que diversos atos considerados "naturais" não o são. E, ao contrário, a homossexualidade - que muitos dizem ser antinatural - é o mais natural dos exemplos aqui dados.<br />
<br />
Ainda pode haver uma resistência dizendo que a natureza inventou macho e fêmea e que os órgãos genitais do macho se coadunam com a da fêmea e vice-versa. Acontece que essa mesma natureza também criou seres hermafroditas - como no caso das minhocas - que possuem ovários e testículos. Na própria espécie humana, embora não seja comum, também existem seres hermafroditos. Dessa maneira seres híbridos - que não são macho nem fêmea - ocorrem naturalmente, sem interferências humanas.<br />
<br />
Por fim, alguns argumentam que não é natural, pois não tem como haver reprodução em um sexo homossexual. Mas, mais uma vez, na natureza existem animais que são naturalmente estéreis como a mula e o burro. Apesar de no geral terem órgãos sexuais pouco desenvolvidos, existem diversos casos documentados de que esses animais também transam, ou seja, o sexo sem reprodução também ocorre na natureza.<br />
<br />
2 - NA BÍBLIA DIZ QUE A HOMOSSEXUALIDADE É ERRADA.<br />
<br />
Isso é correto. Existem passagens na Bíblia que mencionam isso. A problemática, no entanto, vai bem, além disso. Tendo a Bíblia como referência, a mesma diz, no novo testamento o seguinte:<br />
"Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus1 CO 11.14-16."<br />
<br />
Logo, mulheres de cabelo curto e homens de cabelo longo são tão desonrosos quanto um homossexual.<br />
<br />
Continuando, um trecho extraído da revista Superinteressante:
"Se o Livro Sagrado proíbe a cobrança de juros, mas só entre judeus, o mesmo vale para a escravidão. Você pode ter escravos, contanto que "sejam das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas", diz o Levítico. Mas havia uma exceção: era possível a um judeu endividado vender a si mesmo para o credor."<br />
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Dessa forma, é moralmente aceito pela Bíblia que as pessoas tenham escravos. Como não pode ser da mesma nação, nada impediria, para um cristão ortodoxo, comprar um escravo paraguaio, por exemplo, ele não estaria pecando, pelo contrário.<br />
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No Antigo Testamento, a poligamia era abertamente aceita, como demonstra trecho retirado da revista SuperInteressante:<br />
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"Poucas coisas mudaram tanto nos últimos 3 mil anos como a instituição do casamento. Então esse é o nosso primeiro tópico. Para começar, o Velho Testamento deixa claro que as mulheres deveriam ser funcionárias de seus maridos. Funcionárias mesmo: não só com deveres, mas com direitos também. Se uma esposa fosse "demitida" pelo parceiro, por exemplo, podia ganhar uma carta de recomendação, que a moça podia usar como trunfo na hora de tentar uma vaga de mulher de outro sujeito.<br />
<br />
Não é exagero falar em "vaga": um homem podia ter tantas esposas quanto quisesse (ou melhor: quanto pudesse adquirir e sustentar). A poligamia era a regra. Tanto que o primeiro caso aparece logo no capítulo 4 do primeiro livro da Bíblia: "E tomou Lameque para si duas mulheres" (Gênesis)”.<br />
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O Novo Testamento não fala muito sobre a poligamia, mas deixa claro que ela era comum e moralmente aceita. Em mais um trecho extraído da Superinteressante, temos o seguinte:<br />
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"O Novo Testamento não cita tantos exemplos de poligamia, mas sugere que ela ainda era comum no século 1. Jesus não toca no assunto, mas, em duas cartas, são Paulo recomenda que os líderes da nova comunidade cristã tenham apenas uma esposa porque "assim eles teriam mais tempo para dedicar aos fiéis". "O cristianismo só refuta a poligamia quando se aproxima do poder em Roma, que proibia a poligamia", afirma Brettler. Como escreve santo Agostinho no século 5, "em nosso tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar outra esposa".<br />
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Dessa forma, fica claro que a mudança, longe de ter sido moral, foi motivada por um caráter político.<br />
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Ademais, para os católicos, a própria Igreja Apostólica Romana, emitiu em meados de 1975 um aviso de que as interpretações da Bíblia não devem ser literais. E que a linguagem utilizada é muitas vezes metafórica e inerente àquela época.<br />
<br />
Alguns religiosos precisam, além disso, deixar de ser egocêntricos. Em escrituras mais antigas e consideradas sagradas - os Vedas, por exemplo- que formam a base do Hinduísmo e foram escritos bem antes da Bíblia não existe qualquer menção de que a homossexualidade seja algo errado. Pelo contrário, nos Vedas existe a menção a três gêneros diferentes: os homens, as mulheres e o terceiro sexo. Vejam:<br />
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“Os mecanismos da variação biológica do homem e da mulher “normais” sempre envolvem alterações no padrão de desenvolvimento. Mas isso não quer dizer, entretanto, que tais alterações são erros biológicos ou “erros” da natureza de Deus. As pessoas normalmente assumem que todo membro da sociedade humana deveria ser diretamente envolvido no processo de reprodução sexual, mas nós podemos observar que na natureza bem frequentemente não é esse o caso. Em muitas espécies altamente sociáveis, membros não reprodutivos têm um único e um importante papel. Por exemplo, numa colônia de abelhas, a rainha sozinha é a fêmea reprodutiva, enquanto que abelhas trabalhadoras são todas um “terceiro sexo” ou não reprodutivas e estéreis (...).<br />
<br />
"Na literatura védica, o sexo e o gênero dos seres humanos é claramente dividido em três categorias separadas, de acordo com sua prakriti, que traduzido literalmente significa “natureza”. Estes são pums-prakriti ou homens, stri-prakriti ou mulheres e tritiya-prakriti, ou o terceiro sexo. Estas três categorias não são determinadas por suas características físicas somente, mas por uma avaliação do ser humano total, que inclui o corpo físico, o psíquico e uma única consideração baseada na interação social (seu status procriativo). Geralmente o termo “sexo” se refere ao sexo biológico e gênero ao seu comportamento psicológico e identidade. O termo prakriti ou natureza, entretanto, implica ambos aspectos juntos como uma unidade intricadamente costurada e coesiva." trecho retirado do blog <u><span style="color: blue;">http://evolucaolgbt.blogspot.com.br/2010/03/chico-xavier-homossexualidade-e-os.html </span></u><br />
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Portanto, fica claro que se utilizarmos a Bíblia como parâmetro, vários dos nossos comportamentos também deveriam ser mudados. Algumas coisas consideradas moralmente aceitar pela sociedade deveriam ser revistas e outras consideradas imorais deveriam passar à categoria de moral. Por que somente a homossexualidade é atacada? E mais, por que os fiéis que atacam a homossexualidade, com base na Bíblia, não a seguem de maneira rígida e também cometem outros pecados condenados por um livro eles próprios usam pra dizer que a homossexualidade é errada? Nesse caso, nada mais justo que ou eles aceitam a homossexualidade ou eles serão obrigados a rever a vida deles também, pois caso contrário, estarão apenas se utilizando "dois pesos e duas medidas", longe dos ensinamentos bíblicos de fato aos quais eles tanto se apegam.<br />
<br />
Por fim, como já mencionado, não se pode querer impor a Bíblia à sociedade. Existem diversos livros sagrados de outras religiões, como os Vedas por exemplo. Dessa maneira, a imposição de que a homossexualidade é errada única e exclusivamente baseada na Bíblia, faz-nos perceber a ditadura religiosa pela qual algumas pessoas querem impor as convicções dela sobre as outras. E, como já mostrado, de maneira contraditória, eliminando-se a parte da Bíblia que não lhes convém e enfatizando as que convêm. Isso é religião ou manipulação?<br />
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3- DEUS CRIOU ADÃO E EVA E SE A HOMOSSEXUALIDADE FOSSE CORRETA, DEUS TERIA CRIADO ADÃO E IVO.<br />
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Esse argumento é até engraçado. Alguns falam dessa forma, outros falam Deus criou o homem e a mulher. Correto. Mas e os hermafroditas aqui mencionados por quem foram criados? A minhoca não é um ser divino por que ela possui óvulos e espermatozoides simultaneamente? E no ser humano? Os hermafroditas são aberrações? Mas aberrações criadas por quem? Pelo demônio? O demônio pode criar aberrações? Mas se o demônio pode criar aberrações, então quem garante que a própria criação do homem e da mulher não seja uma aberração criada pelo demônio? O demônio é astuto, certo? Seria muito mais fácil ele criar algo que "parecesse natural", como no caso do homem e da mulher e induzir a sociedade a erro do que criar algo que o processo ser humano considerasse uma aberração. Dessa maneira, o demônio seria burro, longe da esperteza, do ardil e da sagacidade que essas religiões falam que ele possui.<br />
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Fica claro, portanto, que na natureza e na espécie humana não existe somente o dual: macho e fêmea, mas também seres híbridos que carregam características de ambos.<br />
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4- A HOMOSSEXUALIDADE É UMA DOENÇA<br />
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No dia 17 de maio de 1990, a OMS retirou a homossexualidade da lista de transtornos mentais. Antes disso, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria já havia retirado. Em 1975, a Associação Americana de Psicologia fez o mesmo. Em 1984, a Associação Brasileira de Psiquiatria rechaçou a discriminação contra homossexuais, alegando que tais indivíduos não são prejudiciais à sociedade, Em 1999, a Associação Brasileira de Psicologia proibiu qualquer terapia que prometa a cura ou o tratamento da homossexualidade. Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.<br />
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Dessa forma, fica claro que tanto do ponto de vista médico, quanto psicológico, a homossexualidade não é mais encarada como uma doença, desvio ou qualquer tipo de perversão.
Ademais, sob o ponto de vista científico, algo para ser considerado uma doença deve:<br />
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1- Trazer prejuízos físicos ao organismo da pessoa.<br />
2- Trazer prejuízos psicológicos, mentais, emocionais ao organismo da pessoa e a outrem.<br />
3- Trazer prejuízos físicos e psicológicos simultaneamente.<br />
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A homossexualidade não traz nenhum prejuízo físico ao organismo de alguém. Ninguém adoece ou tem o funcionamento orgânico prejudicado por ser homossexual, tampouco morre, perde alguma capacidade físico-motora, etc.<br />
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Os prejuízos psicológicos, mentais, emocionais que um homossexual pode apresentar são todos em função do preconceito pelo qual o tema ainda é tratado. É óbvio que se você cresce em um ambiente em que seus pais, amigos e familiares falam que a homossexualidade é algo errado, a forma de você lidar com isso será delicada. Se desde criança foi lhe ensinado que a homossexualidade é imoral, ainda que você pense o contrário, caso você seja homossexual, terá que lidar com os preconceitos da família. E caso a família aceite, a pessoa ainda poderá enfrentar os preconceitos da sociedade.<br />
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Dessa maneira, fica claro que os desequilíbrios emocionais enfrentados por muitos homossexuais não são inerentes de um conflito emocional interno, mas de um conflito emocional, a priori, totalmente externo que pode se interiorizar, ou seja, o motivador (a causa inicial) para um possível conflito nunca é a própria pessoa em si, mas um agente externo a ela.<br />
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Crianças pequenas (de 2, 3, 4 anos) têm demonstrado, em pesquisas e experiências tolerância em relação à homossexualidade. O mesmo não ocorre depois dos 5, 6 anos, idade em que muitas dessas crianças já foram incutidas de que a homossexualidade é algo errado. Mais que isso, crianças que são ensinadas desde cedo que a homossexualidade é algo normal, moral tanto quanto a heterossexualidade dificilmente terão problemas em lidar com isso no dia a dia ao avistarem casais gays. Ao contrário, se desde a mais tenra infância, o indivíduo é ensinado que a homossexualidade é imoral, errada, ela tende a se espantar, chocar-se ou tornar-se intolerante ao avistar casais homossexuais. Essas questões não valem somente para o âmbito familiar, mas para o âmbito escolar e social dessas crianças.<br />
<br />
Fica evidente que a homossexualidade não preenche nenhum dos critérios estabelecidos para que seja considerada uma doença, ao menos do ponto de vista científico.<br />
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5- A HOMOSSEXUALIDADE É IMORAL. É UMA PERVERSÃO MORAL<br />
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Julgar algo como sendo moral ou imoral é um campo de discussão interminável, em que enveredamos pela Filosofia (Ética), Sociologia, Historicismo, crenças religiosas, achismos, preferências pessoais, histórias de vida, etc. Sem querer entrar em discussões mais profundas acerca da moral, o que transformaria esse texto em um conto sem fim, procurarei demonstrar exemplos quase uníssonos do que seja considerado moral e imoral em nossa sociedade (falo da sociedade brasileira) pelo senso comum.<br />
<br />
MATAR ALGUÉM - Salvo em casos extremos de Legítima Defesa ou para ajudar outra pessoa em perigo, um familiar nas mãos de um bandido, por exemplo, o ato de matar é considerado imoral pela quase totalidade das pessoas consideradas sãs.<br />
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ROUBAR OU FURTAR - Da mesma forma, roubar, salvo em casos de extrema necessidade - a pessoa rouba um pacote de biscoito porque tem fome - e furtar são ações consideradas imorais pela quase totalidade das pessoas consideradas sãs.<br />
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CORRUPÇÃO, ESTELIONATO, LAVAGEM DE DINHEIRO<br />
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Agora podemos questionar o porquê de ações como matar, roubar, furtar, etc., serem consideradas imorais.<br />
<br />
Primeiramente, em uma sociedade sem conflitos extremos - guerra civil, grande parte da população sedenta e desnutrida - matar, roubar ou furtar gera um desequilíbrio, uma desarmonia não necessária para uma sociedade relativamente estável. Se alguém sai na rua e é roubado, outros poderão temer ser roubados também. Semelhantemente, se alguém é morto na rua, outros ficarão inseguros em sair de casa e serem mortos. Em todos esses casos, houve uma quebra de harmonia na sociedade. Não se pode legitimar um assassinato, salvo as exceções já apresentadas, como algo moral, pois caso isso ocorresse a sociedade entraria em colapso. Não haveria garantia nenhuma de harmonia social, pelo contrário, alguém poderia ser morto a qualquer hora e, já que a ação não seria passível de punição, outros poderiam matar ou serem mortos e não haveria mais harmonia social. O mesmo ocorreria com o caso do furto e de roubos. Importante salientar que, independente da crença religiosa, achismos, preferências pessoas, visões de mundo, etc., legitimar o ato de matar alguém ou roubar alguém, em nossa sociedade, como algo moral, arruinaria os pilares básicos de harmonia social, ou seja, não estamos falando de qualquer julgamento baseado em juízos de valores, crenças ou preferências, mas tão somente sobre questões consideradas imorais, pois prejudicariam o bem estar da nossa sociedade. A esse grupo de ações imorais, daremos o nome de ações imorais de fato.<br />
<br />
Contudo, a grande problemática do conceito de moral e imoral ocorre justamente em questões não consensuais em que os juízos de valor, crenças, conceitos e preconceitos entram em cena. Uma mulher com microvestido pode ser considerada imoral "de acordo com as leis da moral e dos bons costumes". Mas que leis morais e dos bons costumes são esses? Certamente não estão no mesmo nível das supracitadas, pois uma mulher de microvestido não causa nenhum desequilíbrio social de fato. Pode haver uma perturbação de outras pessoas, mas porque essas consideram que uma mulher de microvestido é algo imoral e não porque a mulher de microvestido vai causar desarmonia na sociedade, impossibilitando a mesma de se manter harmoniosa.<br />
<br />
Não existe simplesmente a "lei da moral e dos bons costumes". Isso foi algo inventado e apreendido pelos indivíduos da nossa sociedade, no máximo, a maioria chegou a um consenso sobre isso, mas ainda assim, um consenso que está longe de ser uníssono. Para um homem solteiro e que procura sexo, uma mulher de microvestido pode ser interessante e moral. E, caso ele venha a transar com a garota de microvestido em questão, o que isso atrapalhará a sociedade? Em nada, obviamente a não ser, novamente para os famigerados moralistas com a simples repetição de que "isso afronta a lei da moral e dos bons costumes". Mas mais uma vez me perguntou que lei é essa? De onde ela veio? No que ela contribui para a harmonia/desarmonia de uma sociedade?<br />
<br />
É exatamente nesse patamar que a homossexualidade entra. Quando alguém diz que a homossexualidade é imoral, essa pessoa está se baseando em crenças, juízos de valor, "lei da moral e dos bons costumes" e não na harmonia/desarmonia da nossa sociedade. Fica evidente que a homossexualidade, quando é considerada imoral, não entra no critério de ações imorais de fato. Nesse caso e o da mulher de microvestido, daremos o nome de "ações imorais baseadas em juízo de valor”.<br />
<br />
A grande pergunta que fica em questão é se podemos cercear os direitos de pessoas - como a mulher usar o microvestido ou um casal homossexual não poder se casar - com base nas "ações imorais baseadas em juízo de valor." Mesmo porque, nesse caso, não existe um consenso. Muitos defenderão a liberdade da mulher em se vestir da forma que ela quiser, afinal vivemos em um país democrático. Da mesma maneira, muitos defenderão o casamento civil homossexual alegando que os homossexuais têm os mesmos direito dos heterossexuais. As ações imorais baseadas em juízo de valor nunca são uníssonas, pelo contrário, muitos defendem essas ações, não só como sendo morais, mas como imprescindíveis para um país democrático.<br />
<br />
Ademais, o fato de a mulher usar um microvestido, não impede que outras que não concordem usem vestidos mais longos, calças, etc., ou seja, o microvestido não tira o direito de outras mulheres. Da mesma forma, o fato de que um casal homossexual possa se casar, não tira o direito de casais heterossexuais também se casarem ou ainda de alguém que não é homossexual ser obrigado a se tornar um homossexual. Nesses casos, não existe cerceamento de direitos, pelo contrário, uma ampliação de direitos com base em conceitos democráticos. Não estamos falando aqui que as pessoas terão que concordar ou achar moral uma mulher ir às ruas de microvestido ou um casal homossexual poder se casar, o que falamos é que concordando ou não, tirar essa liberdade dessas pessoas soa antidemocrático e ditatorial.<br />
<br />
6- Conclusão:<br />
<br />
Uma vez que:<br />
<br />
1- A homossexualidade não é antinatural;<br />
2- na Bíblia, apesar de haver menções contra a homossexualidade, também há várias que os fiéis ignoram;<br />
3 - Deus não ter criado somente Adão e Eva;<br />
4- a homossexualidade não ser considerada uma doença;<br />
5- a homossexualidade não ser uma ação imoral de fato;<br />
<br />
Que tipos de argumentos, para além dos preconceituosos, poderiam legitimar a não aprovação do casamento civil homossexual em nosso país?
Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-7278850479507782982011-08-11T03:37:00.000-07:002011-08-11T04:13:48.445-07:00A classe média que o governo inventouO Censo 2010 mostrou que cerca de 60% da população brasileira tinha renda per capita de até um salário mínimo, donde depreende-se que a mediana brasileira para renda per capita era inferior a 510 reais, portanto, inferior a 1683 reais. (média domiciliar de 3,3 moradores segundo o último censo). Pegando os dados da FGV, temos que 66,8% das pessoas pertencem às classes A, B ou C e 33,2 às classes D e E. A classe C, sozinha, conta com 55% de membros.
<br />
<br />"O IBGE divide as categorias das classes sociais de acordo com a renda familiar mensal. Estão na classe E as pessoas com renda de até R$ 751. Na classe D figuram as famílias que recebem entre R$ 751 e R$ 1.200 por mês.
<br />
<br />A classe C é composta de famílias com renda entre R$ 1.200 e R$ 5.174. Já a classe B inclui pessoas com renda familiar entre R$ 5.174 e R$ 6.745. Qualquer família que ganhe mais do que isso por mês é considerada classe A pelo IBGE."
<br />
<br />Na verdade, houve um erro de reportagem, pois não é o IBGE e sim a FGV. Continuemos... para 33,2% da população brasileira a renda não chega a 1.200 reais por mês, portanto, 363,6 per capita por mês. Temos portanto um grande bolo de quase 30% (para completar os 60% (60,7%) que vivem com até 1 salário mínimo per capita). Podemos afirmar, matematicamente, que a mediana brasileira per capita é superior a 363,6 reais e inferior a 510 reais. Logo, podemos afirmar que o grande bolo da classe C está entre 363,6 e 510 reais per capita por mês, portanto, seguramente entre os 1.200 a 1683 reais está a metade da fatia da classe C, ou seja, dos 55% pertencentes à classe C, 27,5% tem rendimento mensal inferior a um salário mínimo, juntando-se aos outros 33,2% e somando-se aos 27,5% (metade da classe C) temos 60,7%.
<br />
<br />Já sabemos, portanto, que metade da classe C tem renda entre 1.200 e 1.683 reais. Continuemos com o cruzamento de dados. O Censo também divulgou que 82,4% dos brasileiros vivem com renda per capita de até 2 salários mínimos por mês, ou seja, 1020 reais.
<br />
<br />Excluindo-se os já 60,7%, sobra 21,7% das pessoas nesse bolo. Novamente fazendo a média de moradores de 3,3, temos que 82,4% das famílias brasileiras tinha renda inferior a 3366 reais em 2010. Somando a 27,5% e adicionando-se, chegamos a conclusão de que 49,2% dos 55% dos membros pertencentes à classe C tinham renda inferior a 3366 reais por mês, donde conclui-se que o percentual de membros da classe C que ganha entre 3366 a 5100 (um abismo de 1743 reais) representa tão somente um pouco amis que 5% dos 55% dos brasileiros pertencentes à classe C. Possivelmente esses, aliados aos 11,8% das classes A e B completariam a verdadeira classe média brasileira, ou seja, algo proximo dos 17,6% da populaçao brasileira que ganha acima de 3366 reais. Reparem, mais uma vez como esses números são perigosos: eles forjam o grande hiato de 1743 reais que separa a classe C da classe B, em que estão apenas 5,8% dos brasileiros, digamos representando os tops da classe C. A partir da faixa de 5100 reais, chegamos à elite brasileira com os seus 11,8% de representantes. No entanto, como esse número já engloba a minoria, a renda vai caindo de maneira muito mais devagar... por exemplo para se pertencer ao top dos 1% mais ricos, estima-se que a renda necessária seja acima de 20 mil reais (uma diferença de cerca de 14 mil reais para se pertencer ao top 10), mostrando mais uma vez um hiato entre a elite e a "superelite", fazendo acreditar que a elite se veja como classe média. (No caso, isso serve para a maioria das pessoas aqui).
<br />
<br />Em suma, temos uma manipulação de números convenientes ao governo para demonstrar um progresso não existente. Houve sim melhorias, mas muito inferiores àquelas que o governo quer propagar. Só aumentar em pouco mais de 400 reais a renda mínima para ser considerado classe C (ou seja 1.683 reais) e teríamos novamente um Brasil formado pela maioria nas classes D e E.
<br />
<br />OBS: Mediana leva em consideração o bottom 50% e o top 50%, desconsiderando-se a média.
<br />Vamos dar um exemplo: em um país de 6 famílias cuja renda de cada família é de 1.000, 2.000, 3.000, 6.000 8.000 mi e 10 mil, teríamos a média de renda em 30 mil dividida por 6, ou seja, renda média de 5 mil. No entanto, a mediana seria acima de 3000 reais (um desvio de 2000 reais), uma vez que o bottom 50% seriam as três famílias que ganham 1.000, 2.000 e 3.000 e o top 50% seriam as famílias que ganham acima de 3.000 reais. Portanto a mediana serve para minimizar a média que é forjada devido às disparidades salariais. Na verdade, o cálculo da mediana é um pouco mais complicado, mas para efeitos de esclarecimento, o mais importante é a visualização entre os 50% de baixo e os 50% de cimaBernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-49293603851820997152011-05-04T12:43:00.000-07:002011-05-04T13:36:35.044-07:00Renda per capita brasileira atinge quase 11 mil dólares, mas população não vê issoCom o crescimento de 7,5% da economia brasileira em 2010 e a desvalorização do dólar ante ao real, a renda per capita brasileira atingiu os US$ 10.814 dólares anuais ou cerca de R$ 19.000. Caso essa renda fosse distribuída de maneira igualitária entre todos os brasileiros - incluindo crianças e adolescentes - a renda per capita mensal de cada habitante seria de 1.461 reais (incluindo o 13o salário). Para uma família de três pessoas, a renda seria de 4383 reais mensais. <br /><br /> Infelizmente, o crescimento econômico brasileiro, embora tenha beneficiado razoavelmente a população, ainda esbarra na enorme desigualdade de renda do país. Ainda que a concentração de renda, no Brasil, esteja caindo, essa queda é muito paulatina, discreta e aquém do que deveria ser. Para efeitos de comparação, o último censo de 2010 constatou que 82,4% da população brasileira vivia com menos de 2 salários mínimos (1.020 reais na época) de renda per capita mensal, ou seja, pelo menos 8 de 10 brasileiros estavam abaixo da renda per capita média do país. Na outra ponta famílias com renda per capita mensal acima de 3 salários mínimos (1530 reais) representavam apenas 10,45%. Enquanto os lares que possuíam renda per capita mensal entre 2 e 3 salários mínimos, ou seja, próximos da média, era de 7,15%. <br /><br /> Dessa forma, percebe-se que a renda per capita de 10.800 dólares é irreal no que diz respeito à realidade social da população, uma vez que 82,4% dos lares brasileiros estavam abaixo da média, 7,15% dentro da média e apenas 10,45% acima dela. Fica difícil, quando se fala da população em si e não da renda do país, considerar os 10.800 dólares como um fator confiável para se medir o Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Na verdade, a renda per capita média dos brasileiros é, ao menos a metade (algo entre 5.000 a 5.500 dólares anuais).<br /><br /> Um dado animador divulgado pela Fundação Getúlio Vargas demonstra que a concentração de renda no Brasil caiu para valores ligeiramente abaixo daqueles da década de 60 (década em que o Brasil apresentou a menor concentração de renda até então). O crescimento da renda da fatia mais desfavorecida, bem como a de negros e analfabetos vem aumentado bem mais do que a média. Contudo, ainda que a concentração de renda no Brasil esteja caindo e a renda da população pobre esteja aumentando, a situação do país ainda é preocupante e ultrajante. Muito se fala que as mudanças devem ser paulatinas a fim de se consolidarem. Mas de tão paulatinas o Brasil tem ficado para trás. Em 1960, a renda per capita brasileira era ligeiramente acima da sul-coreana. Hoje, a Coreia do Sul ostenta uma renda per capita duas vezes e meia acima da brasileira. Outros países, como o Japão, passaram por mudanças radicais nos últimos 50 anos. O que ocorre no Brasil? Por que, embora esteja avançando discretamente as mudanças no país são tão vagarosas, lentas, beirando a inércia?Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-82109395165934426552011-05-02T16:25:00.000-07:002011-05-02T16:57:01.217-07:00Dados do Censo 2010 sobre alfabetizaçãoAqui estão os dados percentuais decrescentes da alfabetização por estados, segundo o último censo do IBGE de 2010. Os dados foram divulgados em 29 de abril de 2011 e mostram uma enorme disparidade entre os estados brasileiros: <br /><br /><br />DF 96,7%<br /><br />SC 96,1%<br /><br />RJ e SP 95,9%<br /><br />RS 95,6%<br /><br />PR 94,2%<br /><br />MS 92,9%<br /><br />GO 92,6%<br /><br />ES 92,4%<br /><br />MG 92,3%<br /><br />AP e MT 92,1%<br /><br />RO 92%<br /><br />Brasil 90,4%<br /><br />AM e RR 90,3%<br /><br />PA 88,7%<br /><br />TO 88,1%<br /><br />AC 84,8%<br /><br />BA 84,6%<br /><br />PE 83,2%<br /><br />SE 83%<br /><br />CE 82,8%<br /><br />RN 82,6%<br /><br />MA 80,6%<br /><br />PB 79,7%<br /><br />PI 78,8%<br /><br />AL 77,4%Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-79179970165089415382011-04-30T03:35:00.000-07:002011-04-30T09:54:47.582-07:00Resultados do Censo 2010 do IBGE azedam a pizza brasileira<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhynOmc_bq9hWFxfktC2hQRj-ModAzVpsjgxdujzFdD8UzeH9yAgjtElihed8enQsEsi01mhHsE6YxlI7MyNjSS2qgxcXp9x2YSHu45qaT2SIYyPxr4DPwyc2nHZv98be3JDEMUXgFjFrYE/s1600/pao_e_circo1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 356px; height: 233px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhynOmc_bq9hWFxfktC2hQRj-ModAzVpsjgxdujzFdD8UzeH9yAgjtElihed8enQsEsi01mhHsE6YxlI7MyNjSS2qgxcXp9x2YSHu45qaT2SIYyPxr4DPwyc2nHZv98be3JDEMUXgFjFrYE/s400/pao_e_circo1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5601324203639944210" /></a><br /><br /><br />E no final, tudo vai terminar bem. E no final, tudo termina em pizza. A tão proclamada pizza, que para alguns é saborosa e para outros definitivamente não, iguaria icônica como ela só para representar a “cordialidade brasileira”, parece ter azedado. Não foi dessa vez que a pizza deu o ar da alegria e do terminar bem. Mas será que todos concordam com o final triste? Bom, o censo de 2010 balança a cabeça com o sim. Pertinente mesmo recorrer a essa metonímia, porque não é alguém que concorda, é “o censo”. Mas, longe de mim ficar em cima do muro, pego a metonímia e personifico-a: penso SIM que a pizza tá com um gosto horrível. Pergunto novamente: será que todos concordam? <br /><br /> De 2000 (ano do penúltimo censo) até 2010 o Brasil passou por uma suposta revolução política. Eis que finalmente, em 2002, um partido, até então de esquerda, assume o poder. Sai um sociólogo, de linguajar refinado e pomposo e entra um “lula do povo”. Eu já questionava o fato de a lula ser realmente um alimento do povo. Eu pensava que era a tal pizza ou seria o frango? Entretanto, essa lula era especial: não vinha do mar, era da terra. Além disso, falava, esbravejava, dizia-se popular, quiçá pensava. Daí que caiu na graça do povo. Pena que o alimento se personificou – nem pôde, com isso, matar a fome dos mais pobres –. Atendia agora pelo L maiúsculo: era Lula e não mais lula. E, provando que não era homofóbico, tampouco conservador, mudou de sexo: o Lula e não mais a lula.<br /><br /> Os projetos políticos, já do Lula personificado, eram audaciosos. No final de seu governo, todos teriam um prato de comida à mesa. Fome Zero. A ideia foi logo abandonada, ou melhor, reformulada para o Bolsa Família. Juntando uma migalha do bolsa escola, do bolsa gás e de tantas outras (por isso 4 milhões a mais de mulheres nesse país, é muita bolsa) o presidente, com toda a sua equipe, deu um passo social importantíssimo para o nosso país: a quantidade traduzida em números estupendos. Já não importava mais o que era ou como funciona o programa, mas sim a divulgação de quanto se gastava e de quantos brasileiros estavam sendo beneficiados. Embalado por esse frenesi quantitativo, Lula e sua equipe criaram o Pro-Uni e o Pro-Jovem. Afinal, o Brasil é um país de todos. Precisamos de pessoas na faculdade. Precisamos de pessoas analfabetas sendo alfabetizadas. Precisamos de pessoas que não terminaram o primeiro grau para concluírem-no. Precisamos de pessoas porque elas fazem números. E números grandes são bonitos de ser mostrados à população. <br /><br /> Tiro saiu pela culatra. Melou. Babou. E foi fogo amigo: o censo. Eis que ele – o implacável censo – despertou a fúria de números latentes, revoltados, rebeldes, que se manifestaram e se voltaram contra o governo. Se, desde o último censo até então, o de 2000, para o de 2010 passaram-se dez anos, oito foram sob a égide do “Lula do povo”. Tanto progresso em oito anos. O Brasil se tornou respeitado lá fora, a classe média passou a ser a maioria no país, a lula – alimento – conquistou a popularidade, milhares de brasileiros entraram na faculdade e foram alfabetizados pelos programas sociais do governo. Números, números. Mas os revoltosos não aguentaram: vieram à tona. Se eu dissesse que 60% dos domicílios brasileiros têm renda per capita mensal de até um salário mínimo, vocês acreditariam no poder da “nova classe média? E se eu completasse essa informação acrescentando mais quinhentinhos reais e falasse que esse número subiria para 82,4% dos lares brasileiros? Ah sim, desculpe-me, esqueci-me dos dez reais que faltavam. Eles são para comprar a lula. O quê? Os 510 reais são o bruto e não o líquido? Não vai sobrar dinheiro para a lula? Não importa, afinal o que conta é o bruto mesmo, né? Que se parcele a minha lula no cartão e mês que vem eu pago! Anota aí, que eu vou parcelar a minha compra! O quê? Você não sabe escrever? Tá bom, você nem é um alienígena. São 9,6% de analfabetos, no Nordeste quase 20%. Mas é claro que vários jovens foram alfabetizados, o problema são os aposentados vagabundos que não querem voltar a trabalhar, tampouco estudar. Vão para a escola e aprendam a ler para diminuir a taxa de analfabetismo do Brasil! <br /><br /> Como o novo governo – continuação do antigo – vai solucionar esse pepino? Pois agora os números revoltosos não estão a favor. Talvez seja melhor falar de Copa do Mundo e Olimpíadas, afinal quem se importa com esses problemas sociais? Aquele governo longínquo já tinha feito isso, não é mesmo? Se a crise é mundial, vamos dar o nosso capital? Vendamos tudo. Deixa o povo protestar com as privatizações. Dos males o menor. Não vão nem perceber o pífio crescimento de 98 e 99, pelo contrário, vão estar mais preocupados em não perder o emprego, já que agora grande parte das empresas é particular e não mais pública. Problema resolvido. Só recorrer à história recente do país. E vamos combinar que falar sobre Copa do Mundo e Olimpíadas é muito mais prazeroso do que privatizar empresas e aumentar o desemprego, né? Números revoltosos, definitivamente vocês foram debelados! Para requintar o circo com pão, eis que aumentemos os benefícios do Bolsa Família. Pronto, demos circo, pão e mantega, ops, manteiga. Podemos até chamar os injustiçados do mensalão de volta, ninguém vai protestar: hein, Delúbio, por onde você anda? Volta para cá, amigo!<br /><br /> Graças a Deus, eu nunca fui chegado a um circo. Gosto – e acredito nos números revoltosos – eu sou uma resistência que ainda não findou. Não quero ser estraga prazeres, mas eu quero mesmo que essa pizza azede bastante. E muito. Talvez assim haja mais números revoltosos que, ao menos com alguma dignidade, ainda achem um descalabro a volta do Delúbio Soares. E venham mais números rebeldes para não aceitar que o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, que renunciou ao cargo em meio a escândalos de corrupção, torne-se agora membro do Conselho de Ética do Senado. Isso é sim muita falta de ética. Talvez para esses tais, a pizza não azedou mesmo. Mas para a maioria ela está estragada. O pior é que a maior parte não sabe. Ah, e a tal lula popular que trocou de sexo, passando a ser atendida no masculino e com o L maiúsculo não provou ser anti-homofóbico. O projeto de lei que tramita no parlamento tá lá, quietinho. Mas tá tudo bem. Se o censo azedou a pizza para os mais conscientes, é só reinventar o pão com circo, aprimorá-lo, modernizá-lo. Afinal, né brasileiros, a pizza pode estar amarga, mas se o pãozinho for gostoso e ainda estiver com manteiga para que brigar? Eis a nossa distinção, o nosso charme – a nossa cordialidade.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-85411102737424398772010-11-09T12:53:00.000-08:002010-11-09T12:56:42.687-08:00Programa de Transferência de Renda: Bolsa Família e Food Stamps<span style="font-weight:bold;">Assistencialistas, Políticos, Necessários?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">1- Os programas</span><br /><br /> Cerca de 11 milhões de famílias, em média 35 milhões de brasileiros, são beneficiados pelo programa Bolsa Família, um dos maiores programas de transferência de renda da atualidade, encontrando talvez apenas o americano Supplemental Nutrition Assistance Program (SNAP) como concorrente ao título. O “Food Stamps”, como é popularmente conhecido nos EUA, abrange em torno de 40 milhões de famílias. <br /><br /> O projeto do Bolsa Família nasceu da integração de alguns programas já existentes no governo FHC: bolsa-escola, bolsa gás e outros. Todos esses auxílios foram incorporados e melhor estruturados pelo projeto do Bolsa Família, que veio para substituir um outro projeto, o Fome Zero. Em um primeiro instante, de caráter assistencialista e emergencial, o programa visa a tirar as famílias consideradas extremamente pobres (menos de 70 reais per capita por mês) e pobres (até 140 reais per capita por mês) da situação de penúria, proporcionando condições mínimas para a sobrevivência. Mais importante, contudo, é a necessidade de os beneficiados preencherem alguns pré-requisitos: os filhos estarem regularmente matriculados na escola e com a carteira de vacinação em dia. A transferência de renda do programa varia conforme a renda per capita da família e o número de filhos, sendo o mínimo de 22 e o máximo de 200 reais de auxílio.<br /><br /> O “Food Stamps” americano segue um padrão bem parecido com o brasileiro. A criação do programa data de 1939 e é creditada ao Ministro da Agricultura da época Henry Wallace. O administrador do auxílio era Milo Perkins. Na época o programa funcionava da seguinte forma: os selos laranja indicavam que a pessoa poderia comprar os produtos a custo de produção. A cada um dólar que era gasto no selo laranja, 0,50 centavos de dólares de beneficio eram dados aos beneficiados. Com o selo laranja podia-se comprar qualquer comida, o selo azul permitia apenas uma lista prévia elaborada pelo governo. Dessa forma, o “Food Stamps”, tornou-se um dos primeiros programas de auxílio de transferência do mundo. Ao longo dos anos, o programa passou por várias reformas. Atualmente, existem várias concessões: imigrantes ilegais, por exemplo, não tem direito ao auxílio. Em termos monetários, o Food Stamps americano estabelece uma linha mínima de pobreza, proporcionando benefícios, em média, de 133 dólares por pessoa. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">Dados:</span><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Bolsa Família:</span><br /><br />Abrangência: Cerca de 35 milhões de pessoas.<br />Benefícios: De 22 a 200 reais.<br />Gastos do governo com o programa: 13,4 bilhões de reais (projetado para 2011)<br /><br /><span style="font-weight:bold;">Food Stamps:</span><br /><br />Abrangência: Cerca de 40 milhões de pessoas.<br />Benefícios: Média de 133 dólares por pessoa, chegando até a 650 dólares para uma família dependendo das condições<br />Gastos do governo com o programa: 56 bilhões de dólares (dados de 2006)<br /><span style="font-weight:bold;"><br /><br />2- Reflexões sobre os programas</span><br /><br /><br /> O que se pode perceber de antemão é o maior gasto e maiores benefícios do programa americano em relação ao brasileiro. Isso, contudo, não significa maior eficácia do primeiro sobre o segundo. Há de se ressaltar o custo de vida americano e o padrão do que é ser pobre no país, um limite bem superior ao brasileiro. Segundo a maioria das classificações, pobre nos EUA são famílias de quatro pessoas com renda anual inferior a 22 mil dólares, cerca de 37.500 reais por ano, ou 3125 reais por mês, sem contar o 13º salário. No Brasil, a linha de pobreza é de 255 reais per capita por mês, ou 1.020 reais para quatro pessoas e 12.240 reais por ano. Dessa forma, percebemos, na média, que a linha de pobreza americana é até três vezes superior à brasileira. Cabe enfatizar, mais uma vez, o fato de o custo de vida nos EUA ser mais alto, portanto haver a necessidade do PPC (poder de paridade de compra). <br /><br /> Em relação às críticas os dois programas se assemelham: ambos são tidos como “instigantes à vagabundagem” ou assistencialistas. No caso americano, no entanto, o Food Stamps parece ter um peso político muito menor que o Bolsa Família brasileiro. Nos debates presidentes, por exemplo, quase não se fala do Food Stamps e ele é pouco usado como manobra eleitoral, talvez porque ele seja muito mais antigo em comparação ao auxílio brasileiro e, portanto, já enraizado como parte do cotidiano do cidadão americano de baixa renda. O Bolsa Família, todavia, é bem recente (2003) e é usado fortemente na esfera política, tanto de maneira positiva, quando de maneira negativa. Os contrários ao programa falam que, além de assistencialista, o auxílio é usado politicamente, tanto para divulgar as melhorias que o governo está fazendo, quanto para ganhar suporte eleitoral dos privilegiados pelo programa. Alguns vão além e dizem que o programa se tornou o “voto de cabresto” moderno. <br /><br /> Esse racha gerou calorosos debates entre os brasileiros. Os contrários diziam que o governo só faria o sucessor devido ao programa, enquanto os defensores diziam que ele era necessário para prover as famílias do mínimo necessário. Houve uma grande divisão entre regiões mais pobres e, consequentemente, onde há um maior número de beneficiados, e as regiões mais ricas onde há menos contemplados . Muitos argumentos usados pelos detratores se demonstraram falaciosos: mesmo sem o Norte e o Nordeste a candidata da situação teria vencido. <br /><br /> Além disso, parece existir um esquecimento por parte dos críticos de que, como já mostrado, os programas de transferência de renda existem em vários outros lugares (África do Sul, México, Chile e a cidade de Nova York, com o Opportunity NYC) demonstraram interesse em se inspirar no Bolsa Família. Outros países, como o próprio EUA, Canadá, Noruega, Suécia, França,etc, já adotam auxílios monetários há décadas. E mais: com auxílios até maiores e, em um primeiro instante, com um caráter assistencialista até maior. É preciso lembrar que para se receber o Bolsa Família as crianças devem estar matriculadas nas escolas. Sendo assim, não se pode falar tão somente em um programa assistencialista, mas também em um programa que visa à melhoria dos níveis de educação básicos do país, pelo menos no aspecto quantitativo, já que no qualitativo realmente o programa em nada contribui. <br /><br /> Talvez, uma das alternativas para “despolitizar” o Bolsa Família seria colocá-lo na Constituição Brasileira, pois dessa forma se tornaria uma lei e o programa não poderia acabar, caso outro governo assumisse a presidência. O auxílio de um salário mínimo às pessoas com mais de 65 anos que não tem renda não é usado de forma política, justamente por já fazer parte da Constituição. Dessa forma, não adianta alguém falar que o programa será usado de “forma política”, pois se é lei, para ser mudado, precisaria de aval do Congresso e isso geraria um menor temor dos possíveis eleitores que votam a favor do governo com medo de a oposição acabar com o auxílio, caso vença. <br /><br /> Ademais, argumentar que o programa gera uma “acomodação” por parte dos beneficiados parece um tanto frágil. Primeiramente porque se não houver nenhum tipo de ajuda como essas pessoas poderão, ao menos colocar os filhos na escola? Não estamos falando de pessoas de classe baixa, mas de pessoas de classe baixíssima, que muitas vezes não tem dinheiro para o transporte. Sem ajuda, menos dinheiro, com menos dinheiro mais limitação ainda para essas pessoas. É fácil, em teoria, dizer que todos podem estudar e vencer na vida, mas, como o velho clichê já dizia e é importante enfatizar: como uma pessoa preocupar-se-á com o estudo se não tem o mínimo das necessidades básicas atendidas? E como dizer que a educação é a solução de tudo se o povo tem fome? Ninguém vai esperar onze anos para terminar o Ensino Médio e poder comer decentemente. A comida é diária. A necessidade de nutrição e de dignidade também. Por isso, muito mais do que acabar com o programa ou chamá-lo de assistencialista, ele deveria ser ampliado, englobando uma parcela maior da população.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-44179160304976814292010-11-07T13:07:00.000-08:002010-11-07T13:10:19.228-08:00Não percam! Amanhã matéria nova no Blog sobre o programa de transferência de renda Food Stamps americano, e outros no mundo, em comparação com o Bolsa-Família. Amanhã a matéria estará disponível aqui! <br /><br />Além disso, estamos preparando novidades para o blog com a participação de novos colaboradores. Muitas novidades estão por vir!<br /><br />Não deixem de acessar a enquete e participar do blog. Nós queremos ouvi-lo e nós queremos fazer um blog ainda melhor para vocês!Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-73725666138066899832010-11-05T12:55:00.000-07:002010-11-05T13:17:21.543-07:00O que o Brasil melhorou e o que o Brasil ainda precisa melhorar?É interessante notar os avanços do Brasil, que vem, de acordo com a ONU, apresentando uma melhoria consistente e sustentável nos avanços sociais. Esses avanços, embora haja muita contestação (e eles estão aí para ser contestados mesmo), caminham, não de maneira uníssona, mas considerável. O salário mínimo, por exemplo, atualmente de 510 reais, representa um ganho real de mais de 50% em relação ao salário mínimo de 2002. <br /><br />Não podemos descartar, contudo - e esse deve ser a prioridade do governo e de todos nós - a enorme desigualdade social, regional e de gênero que existe no Brasil. O relatório da ONU deixou isso bem claro, mas penso que, mais do que qualquer relatório, essa constatação é empírica. <br /><br />Caso as diferenças de renda fossem consideradas no IDH, esse indicador cairia nada mais, nada menos que 37%. Isso significa que, apesar das melhorias recentes, ainda há muito o que fazer para a renda do Brasil se tornar melhor distribuída. Muitos questionam programas sociais de transferência de renda, sendo o Bolsa-Família o mais criticado. A maior parte argumenta que é um programa assistencialista, deixando, dessa forma, as pessoas dependentes dele, tanto economicamente quanto politicamente. Acabam por esquecer, todavia, que muitos países desenvolvidos também adotam programas semelhantes. Inclusive isso será assunto para uma matéria especial que será publicada aqui no Blog. Falaremos sobre um dos principais programas de transferência americano, o "Food Stamps"<br /><br />Outra categoria que separa o Brasil é a educação. E, nesse aspecto, não temos muito do que se orgulhar. Embora haja bons programas do governo, como o ProUni, a educação pública fundamental ainda carece de investimentos, incentivo e qualificação de professores. A polêmica taxa, já mencionada aqui, sobre a "expectativa de anos de estudo" caiu de 14,5 para 13,8. A taxa de alfabetização é outro fator que estagnou na casa dos 90% há pelo menos três anos. <br /><br />Por fim, temos a diferença de gêneros que ainda incomoda. Embora tenham, em média, mais anos de estudo que os homens, as mulheres ganham em torno de 30% a menos. Na política, a primeira presidente eleita é uma exceção e não a regra. Apenas 9% dos políticos brasileiros são do sexo feminino. Na Argentina, esse número salta para 30%. <br /><br />Com esse post, encerramos as consideramos sobre o IDH 2010. A próxima matéria especial, como já mencionado, será sobre os programas de transferência de renda no mundo, com enfoque no "Food Stamps" americano.<br /><br />Aguardem!Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-41088845930211007722010-11-05T11:56:00.000-07:002010-11-05T12:11:53.580-07:00Como era e como ficou o novo IDH na educação?Como foi prometido, vamos continuar as análises do IDH 2010 divulgado, ontem, pela ONU, comparando-o com a metodologia antiga. <br /><br />Cabe frisar que os dois principais motivos para a mudança de metologia foram os seguintes: a comemoração de 20 anos da criação do IDH e, principalmente, a necessidade de haver dados mais detalhados e mais abrangentes, à medida que os países desenvolvidos estavam se aproximando do IDH máximo, que é de 1. <br /><br />No aspecto antigo, no nível da educação, era medida a taxa de alfabetização de um país e acrescida a taxa bruta de matrículas na educação (ensino médio, fundamental e superior). Com a mudança de metodologia, além dos fatores citados, temos ainda a inclusão de mais três: se o aluno está cursando a série que é esperada para a idade dele, a média de anos de estudo da população e a expectativa média de anos de estudo. Os dois últimos indicadores geraram muita polêmica. <br /><br />O primeiro, para o Ministério da Educação acaba por punir países que começaram a investir nos últimos 10 anos em educação, principalmente em relação à população adulta. Por quê? Porque um adulto não alfabetizado que conclui o ensino fundamental, por exemplo, não elevaria a média de anos de estudo de uma população, caso essa média fosse superior a 8 anos. Além disso, o reflexo dessas políticas públicas só iriam se refletir em IDHS futuros e não nos dos anos seguintes, dando a impressão de estagnação do país. <br /><br />Concernente ao segundo aspecto, houve uma reclamação pela falta de objetividade do indicador ao se referir à "expectativa média de anos de estudo." O que o MEC se indaga é como eles chegaram a essa média, quais foram os dados usados pela ONU, uma vez que esse indicador, em específico, carece de uma consistência objetiva, algo não desejável em uma pesquisa que visa a uma maior objetividade e comparação, como no caso o IDH.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-16555442482332983802010-11-04T16:44:00.000-07:002010-11-04T16:53:48.244-07:00Desenvolvimento Humano Muito Alto<br /><br />1 Noruega 0.938<br />2 Austrália 0.937<br />3 Nova Zelândia 0.907<br />4 Estados Unidos 0.902<br />5 Irlanda 0.895<br />6 Liechtenstein 0.891<br />7 Holanda 0.890<br />8 Canadá 0.888<br />9 Suécia 0.885<br />10 Alemanha 0.885<br />11 Japão 0.884<br />12 Coreia do Sul 0.877<br />13 Suíça 0.874<br />14 França 0.872<br />15 Israel 0.872<br />16 Finlândia 0.871<br />17 Islândia 0.869<br />18 Bélgica 0.867<br />19 Dinamarca 0.866<br />20 Espanha 0.863<br />21 Hong Kong, China (RAE) 0.862<br />22 Grécia 0.855<br />23 Itália 0.854<br />24 Luxemburgo 0.852<br />25 Áustria 0.851<br />26 Reino Unido 0.849<br />27 Singapura 0.846<br />28 República Tcheca 0.841<br />29 Eslovênia 0.828<br />30 Andorra 0.824<br />31 Eslováquia 0.818<br />32 Emirados Árabes Unidos 0.815<br />33 Malta 0.815<br />34 Estônia 0.812<br />35 Chipre 0.810<br />36 Hungria 0.805<br />37 Brunei 0.805<br />38 Qatar 0.803<br />39 Bahrein 0.801<br />40 Portugal 0.795<br />41 Polônia 0.795<br />42 Barbados 0.788<br /><br />Desenvolvimento humano alto<br /><br />43 Bahamas 0.784<br />44 Lituânia 0.783<br />45 Chile 0.783<br />46 Argentina 0.775<br />47 Kuait 0.771<br />48 Letônia 0.769<br />49 Montenegro 0.769<br />50 Romênia 0.767<br />51 Croácia 0.767<br />52 Uruguai 0.765<br />53 Líbia 0.755<br />54 Panamá 0.755<br />55 Arábia Saudita 0.752<br />56 México 0.750<br />57 Malásia 0.744<br />58 Bulgária 0.743<br />59 Trinidad e Tobago 0.736<br />60 Sérvia 0.735<br />61 Belarus 0.732<br />62 Costa Rica 0.725<br />63 Peru 0.723<br />64 Albânia 0.719<br />65 Rússia 0.719<br />66 Cazaquistão 0.714<br />67 Azerbaijão 0.713<br />68 Bósnia-Herzegóvina 0.710<br />69 Ucrânia 0.710<br />70 Irã 0.702<br />71 Macedônia 0.701<br />72 Maurício 0.701<br />73 Brasil 0.699<br />74 Geórgia 0.698<br />75 Venezuela 0.696<br />76 Armênia 0.695<br />77 Equador 0.695<br />78 Belize 0.694<br />79 Colômbia 0.689<br />80 Jamaica 0.688<br />81 Tunísia 0.683<br />82 Jordânia 0.681<br />83 Turquia 0.679<br />84 Argélia 0.677<br />85 Tonga 0.677<br /><br />Desenvolvimento humano médio<br /><br />86 Fiji 0.669<br />87 Turcomenistão 0.669<br />88 República Domenicana 0.663<br />89 China 0.663<br />90 El Salvador 0.659<br />91 Sri Lanka 0.658<br />92 Tailândia 0.654<br />93 Gabão 0.648<br />94 Suriname 0.646<br />95 Bolívia 0.643<br />96 Paraguai 0.640<br />97 Filipinas 0.638<br />98 Botsuana 0.633<br />99 Moldova 0.623<br />100 Mongólia 0.622<br />101 Egito 0.620<br />102 Uzbequistão 0.617<br />103 Micronésia 0.614<br />104 Guiana 0.611<br />105 Namíbia 0.606<br />106 Honduras 0.604<br />107 Maldivas 0.602<br />108 Indonésia 0.600<br />109 Quirguistão 0.598<br />110 África do Sul 0.597<br />111 Síria 0.589<br />112 Tadjiquistão 0.580<br />113 Vietnã 0.572<br />114 Marrocos 0.567<br />115 Nicarágua 0.565<br />116 Guatemala 0.560<br />117 Guiné Equatorial 0.538<br />118 Cabo Verde 0.534<br />119 Índia 0.519<br />120 Timor-Leste 0.502<br />121 Suazilândia 0.498<br />122 Laos 0.497<br />123 Ilhas Salomão 0.494<br />124 Camboja 0.494<br />125 Paquistão 0.490<br />126 Congo 0.489<br />127 São Tomé e Príncipe 0.488<br /><br />Desenvolvimento humano baixo<br /><br />128 Quênia 0.470<br />129 Bangladesh 0.469<br />130 Gana 0.467<br />131 Camarões 0.460<br />132 Mianmar 0.451<br />133 Iêmen 0.439<br />134 Benin 0.435<br />135 Madagáscar 0.435<br />136 Mauritânia 0.433<br />137 Papua-Nova Guiné 0.431<br />138 Nepal 0.428<br />139 Togo 0.428<br />140 Ilhas Comores 0.428<br />141 Lesoto 0.427<br />142 Nigéria 0.423<br />143 Uganda 0.422<br />144 Senegal 0.411<br />145 Haiti 0.404<br />146 Angola 0.403<br />147 Djibuti 0.402<br />148 Tanzânia 0.398<br />149 Costa do Marfim 0.397<br />150 Zâmbia 0.395<br />151 Gâmbia 0.390<br />152 Ruanda 0.385<br />153 Maláui 0.385<br />154 Sudão 0.379<br />155 Afeganistão 0.349<br />156 Guiné 0.340<br />157 Etiópia 0.328<br />158 Serra Leoa 0.317<br />159 República Centro-Africana 0.315<br />160 Mali 0.309<br />161 Burkina Fasso 0.305<br />162 Libéria 0.300<br />163 Chade 0.295<br />164 Guiné-Bissau 0.289<br />165 Moçambique 0.284<br />166 Burundi 0.282<br />167 Níger 0.261<br />168 República Democrática do Congo 0.239<br />169 Zimbábue 0.140<br /><br />Fonte: Revista Veja<br /><br />E como era em 2009?<br /><br />1. Noruega - 0,971<br /><br />2. Austrália - 0,970<br /><br />3. Islândia - 0,969<br /><br />4. Canadá - 0,966<br /><br />5. Irlanda - 0,965<br /><br />6. Holanda - 0,964<br /><br />7. Suécia - 0,963<br /><br />8. França - 0,961<br /><br />9. Suíça - 0,960<br /><br />10. Japão - 0,960<br /><br />11. Luxemburgo - 0,960<br /><br />12. Finlândia - 0,959<br /><br />13. EUA - 0,956<br /><br />14. Áustria - 0,955<br /><br />15. Espanha - 0,955<br /><br />16. Dinamarca - 0,955<br /><br />17. Bélgica - 0,953<br /><br />18. Itália - 0,951<br /><br />19. Liechtenstein - 0,951<br /><br />20. Nova Zelândia - 0,950<br /><br />21. Reino Unido - 0,947<br /><br />22. Alemanha - 0,947<br /><br />23. Cingapura - 0,944<br /><br />24. Hong Kong, China (RAE) 0,944<br /><br />25. Grécia - 0,942<br /><br />26. República da Coreia - 0,937<br /><br />27. Israel - 0,935<br /><br />28. Andorra - 0,934<br /><br />29. Eslovênia - 0,929<br /><br />30. Brunei - 0,920<br /><br />31. Kuwait - 0,916<br /><br />32. Chipre - 0,914<br /><br />33. Qatar - 0,910<br /><br />34. Portugal - 0,909<br /><br />35. Emirados Árabes Unidos - 0,903<br /><br />36. República Tcheca - 0,903<br /><br />37. Barbados - 0,903<br /><br />38. Malta - 0,902<br /><br />. Países classificados com IDH Elevado<br /><br />39 Bahrein 0,895 -1<br /><br />40 Estônia 0,883<br /><br />41 Polônia 0,880<br /><br />42 Eslováquia 0,880<br /><br />43 Hungria 0,879 -2<br /><br />44 Chile 0,878 -1<br /><br />45 Croácia 0,871<br /><br />46 Lituânia 0,870<br /><br />47 Antígua e Barbuda 0,868<br /><br />48 Letônia 0,866<br /><br />49 Argentina 0,866 -2<br /><br />50 Uruguai 0,865 -1<br /><br />51 Cuba 0,863<br /><br />52 Bahamas 0,856<br /><br />53 México 0,854<br /><br />54 Costa Rica 0,854 -1<br /><br />55 Líbia 0,847<br /><br />56 Omã 0,846 -1<br /><br />57 Seychelles 0,845<br /><br />58 Venezuela 0,844<br /><br />59 Arábia Saudita 0,843 -1<br /><br />60 Panamá 0,840<br /><br />61 Bulgária 0,840 -2<br /><br />62 São Cristóvão e Nevis 0,838 -2<br /><br />63 Romênia 0,837<br /><br />64 Trindade e Tobago 0,837 -1<br /><br />65 Montenegro 0,834<br /><br />66 Malásia 0,829<br /><br />67 Sérvia 0,826<br /><br />68 Belarus 0,826<br /><br />69 Santa Lúcia 0,821 -1<br /><br />70 Albânia 0,818<br /><br />71 Federação Russa 0,817<br /><br />72 Macedônia 0,814<br /><br />73 Dominica 0,814 -2<br /><br />74 Granada 0,813<br /><br />75 Brasil 0,813<br /><br />76 Bósnia-Herzegóvina 0,812<br /><br />77 Colômbia 0,807<br /><br />78 Peru 0,806 -1<br /><br />79 Turquia 0,806 -1<br /><br />80 Equador 0,806 -3<br /><br />81 Maurício 0,804 -2<br /><br />82 Cazaquistão 0,804 -1<br /><br />83 Líbano 0,803 -3<br /><br /><br /><br />Países classificados com IDH Médio<br /><br />84 Armênia 0,798<br /><br />85 Ucrânia 0,796 -1<br /><br />86 Azerbaijão 0,787<br /><br />87 Tailândia 0,783<br /><br />88 Irã, República Islâmica do 0,782 -1<br /><br />89 Geórgia 0,778<br /><br />90 República Dominicana 0,777 -1<br /><br />91 São Vicente e Granadinas 0,772<br /><br />92 China 0,772<br /><br />93 Belize 0,772 -3<br /><br />94 Samoa 0,771<br /><br />95 Maldivas 0,771<br /><br />96 Jordânia 0,770 -1<br /><br />97 Suriname 0,769<br /><br />98 Tunísia 0,769<br /><br />99 Tonga 0,768 -3<br /><br />100 Jamaica 0,766 -8<br /><br />101 Paraguai 0,761<br /><br />102 Sri Lanka 0,759<br /><br />103 Gabão 0,755<br /><br />104 Argélia 0,754<br /><br />105 Filipinas 0,751<br /><br />106 El Salvador 0,747<br /><br />107 Síria 0,742<br /><br />108 Fiji 0,741 -1<br /><br />109 Turcomenistão 0,739 -1<br /><br />110 Territórios Ocupados da Palestina 0,737<br /><br />111 Indonésia 0,734<br /><br />112 Honduras 0,732<br /><br />113 Bolívia 0,729<br /><br />114 Guiana 0,729<br /><br />115 Mongólia 0,727<br /><br />116 Vietnã 0,725 -1<br /><br />117 Moldávia 0,720<br /><br />118 Guiné Equatorial 0,719<br /><br />119 Uzbequistão 0,710<br /><br />120 Quirguistão 0,710<br /><br />121 Cabo Verde 0,708<br /><br />122 Guatemala 0,704<br /><br />123 Egito 0,703 -1<br /><br />124 Nicarágua 0,699<br /><br />125 Botsuana 0,694<br /><br />126 Vanuatu 0,693 -1<br /><br />127 Tadjiquistão 0,688<br /><br />128 Namíbia 0,686<br /><br />129 África do Sul 0,683 -1<br /><br />130 Marrocos 0,654<br /><br />131 São Tomé e Príncipe 0,651<br /><br />132 Butão 0,619<br /><br />133 Laos 0,619 -1<br /><br />134 Índia 0,612<br /><br />135 Ihas Salomão 0,610<br /><br />136 Congo, República do (Brazzaville) 0,601<br /><br />137 Camboja 0,593<br /><br />138 Mianmar 0,586<br /><br />139 Comores 0,576<br /><br />140 Iêmen 0,575<br /><br />141 Paquistão 0,572<br /><br />142 Suazilândia 0,572 -2<br /><br />143 Angola 0,564<br /><br />144 Nepal 0,553<br /><br />145 Madagascar 0,543<br /><br />146 Bangladesh 0,543<br /><br />147 Quênia 0,541<br /><br />148 Papua-Nova Guiné 0,541 -2<br /><br />149 Haiti 0,532<br /><br />150 Sudão 0,531<br /><br />151 Tanzânia 0,530<br /><br />152 Gana 0,526<br /><br />153 Camarões 0,523 -1<br /><br />154 Mauritânia 0,520 -1<br /><br />155 Djibuti 0,520<br /><br />156 Lesoto 0,514<br /><br />157 Uganda 0,514<br /><br />158 Nigéria 0,511 -1<br /><br />Países classificados com IDH Baixo<br /><br />159 Togo 0,499<br /><br />160 Malauí 0,493<br /><br />161 Benin 0,492<br /><br />162 Timor-Leste 0,489<br /><br />163 Costa do Marfim 0,484<br /><br />164 Zâmbia 0,481<br /><br />165 Eritreia 0,472<br /><br />166 Senegal 0,464<br /><br />167 Ruanda 0,460<br /><br />168 Gâmbia 0,456<br /><br />169 Libéria 0,442<br /><br />170 Guiné 0,435<br /><br />171 Etiópia 0,414<br /><br />172 Moçambique 0,402<br /><br />173 Guiné-Bissau 0,396<br /><br />174 Burundi 0,394<br /><br />175 Chade 0,392<br /><br />176 República Democrática do Congo 0,389<br /><br />177 Burkina Fasso 0,389<br /><br />178 Mali 0,371<br /><br />179 República Centro-Africana 0,369<br /><br />180 Serra Leoa 0,365<br /><br />181 Afeganistão 0,352<br /><br />182 Níger: 0,340<br /><br />Fonte: UOL<br /><br /><br />As mudanças expostas acima serão comentadas amanhã.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-22546446519258262012010-11-04T12:46:00.001-07:002010-11-04T12:49:08.263-07:00Obrigado a todos os seguidores e a todos que comparecem ao Blog Cultura e Diversidade. Amanhã estarei colocando mais reflexões e dados frescos do IDH 2010. O Blog também passará por uma grande reforma no seu design e ficará mais ágil e mais atualizado com muitas matérias de cultura, moda, filosofia, sociolofia, enfim com muitas matérias sobre as nossas culturas e diversidades!<br /><br />Não deixem de visitar o blog, que agora terá atualizações diárias e uma grande reportagem uma vez por semana!Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-36590505908428572962010-11-04T11:37:00.001-07:002010-11-04T11:57:21.807-07:00Nesse primeiro post de análises mais profundas sobre alguns dos indicadores recém-lançados pela ONU, gostaria de focar no IPM (Índice de Pobreza Multidimensional) ou MPI em inglês (Multidimensional Poverty Index).<br /><br />Esse critério analisa as privações dos cidadãos em três áreas básicas: padrão de vida, educação e saúde.<br /><br />Em relação ao padrão de vida, temos alguns critérios, tais como acesso à rede de esgoto e água tratadas, eletricidade, quantidade de banheiros entre outros. Para a educação, dois grandes ítens são pesquisados: a quantidade de crianças matriculadas na escola e a média de anos de estudo. Na questão da saúde, temos a taxa de mortalidade infantil e a de crianças subnutridas.<br /><br />Segundo os critérios adotados pela ONU, um terço das pessoas dos 104 países pesquisados, isto é, 1,75 bilhões de pessoas sofrem com a pobreza multidimensional. Esse número está acima do critério estabelecido pela ONU para pobreza extrema, que é de 1,25 doláres por dia (1,44 bilhões de pessoas vivem com menos disso, mas abaixo dos 2 dólares estabelecido pela ONU como pobreza relativa (2,6 bilhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia). <br /><br />Os maiores índices de pobreza multidimensional são encontrados no Sudeste Asiático e na África Subsaarina. Mas esse percentual não é igual. Enquanto na África do Sul, por exemplo, cerca de 3% das pessoas sofrem com o problema, em Niger esse índice salta para 93%. Importante ressaltar é que nem sempre países com menor renda per capita têm IPM maior que outros de maior renda per capita. Segundo a ONU, isso ocorre porque alguns países têm acesso aos "bens multidimensionais" facilitados ou mais baratos, ainda que a renda dos países não seja tão elevada. <br /><br />No Brasil, o índice de pobreza multidimensional é relativamente baixo (8,5%), mas bem maior do que no vizinho Uruguai (apenas 2%). O Brasil também perde para Argentina, Chile e México.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-26441465438655132702010-11-04T10:38:00.000-07:002010-11-04T10:45:56.998-07:00Continuando a análise do IDH 2010, que gerou muita polêmica, vejamos alguns dados pela metodologia nova:<br /><br />IDH 2000 - 0,649 (desenvolimento humano médio, segundo os novos critérios)<br />IDH 2010 - 0,699 (desenvolvimento humano alto, segundo os novos critérios)<br /><br />Na comparação com 2009, o Brasil cresceu 0,006 e subiu quatro posições, passando do 77o lugar, para a 73a posição.<br /><br />O que mais prejudica o Brasil ainda é a grande concentração de renda e as desigualdades de gênero. Pelo IDH ajustado, levando em conta as desigualdades sociais, o Brasil passaria para 88a posição com IDH de 0,509. <br /><br />Nos próximos posts, vamos explicar mais detalhadamente os novos critérios adotados pela ONU e como eles repercutiram nos novos índices de IDH dos países.<br /><br />Para os que sabem inglês e querem destrinchar as informações, o link completo do relatório está disponível em pdf:<br /><br />http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2010_EN_Complete.pdfBernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-27427227208038488692010-11-04T08:23:00.001-07:002010-11-04T08:23:58.322-07:00Pela metodologia antiga, o IDH brasileiro ficaria em 0,819, ante a 0,813 do ano passado. Na metodologia nova, com IDH de 0,699, o Brasil supera a média mundial, que é de 0,624.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-24461118057239531962010-11-04T07:58:00.000-07:002010-11-04T08:04:16.033-07:00Mais algumas informações:<br /><br />Os 10 primeiros colocados:<br /><br />1- Noruega 0,938<br />2- Austrália 0,937<br />3- Nova Zelândia 0,907<br />4- Estados Unidos 0,902<br />5- Irlanda 0,895<br />6- Liechtestein 0,891<br />7- Países Baixos 0,890<br />8- Canadá 0,888<br />9- Suécia 0,885<br />10- Alemanha 0,885Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-47590523384774459322010-11-04T07:39:00.000-07:002010-11-04T07:47:57.200-07:00OS dados divulgados agora há pouco pela ONU colocam o Brasil na 73a posição, numa lista de 169 países com IDH de 0,699. Cabe ressaltar, no entanto, que o IDH brasileiro não caiu, a metodologia ficou mais exigente e isso para todos os países. Se recalculado, com a nova metodologia, o IDH brasileiro cresceu 0,8% de 2000 para cá e o Brasil melhoria de posição.<br /><br />Eis alguns dados do IDH 2010:<br /><br />IDH: 0,699 (alto desenvolvimento humano)<br />Rendimento anual per capita U$10.607<br />Expectativa de vida: 72,9 anos<br />Escolaridade: 7,2 anos de estudo<br />Expectativa de vida escolar - 13,8 anos de estudo<br /><br />Índice de Pobreza Multidimensional: 8,5%<br /><br />O IDH 2010 comerora 20 anos e, em comemoração, e para aperfeiçoamento, vários novos indicadores foram incorporados. A metodologia se tornou mais rígida e mais detalhada. Com desvios negativos, por exemplo, por desigualdade de gênero, renda, etc. Além disso, a educação ganhou novos indicadores. Além da taxa de alfabetização e de taxa bruta de matrícula, agora é preciso estar na série correta, por exemplo. <br /><br />A nova metodologia tornou o IDH muito mais complexo, porém muito mais depurado. Amanhã, falaremos mais sobre as peculiaridades do IDH 2010 divulgado hoje pela ONU.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-92163818102877446512010-11-03T10:49:00.000-07:002010-11-03T10:59:37.348-07:00Olá, amigos e visitantes do Blog! É com muita ansiedade que aguardamos a divulgação do próximo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2010 (com dados de 2008) a serem divulgados amanhã pelas Nações Unidas. Assim que tivermos os dados disponiveis, colocaremos aqui para vocês e faremos análises e comparações em relação ao último relatório divulgado (2009 com dados de 2007).<br /><br />Além disso, uma nova e mais abrangente maneira de se determinar as condições de vida e de pobreza em um país será divulgada em substituição ao IPH (Índice de Pobreza Humana). O novo indicador, Multidimensional Poverty Index (MPI), que, em português, deve se chamar de Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), avaliará diversos ítens, tais como saneamento básico, água potável, eletricidade, nutrição, etc. Fará parte da lista aqueles que tenham privação de pelo menos 30% dos ítens levantados. Segundo um relatório bem resumido e já disponível, o Brasil tem 12% de pessoas consideradas pobres, sendo que a maioria - 8,5% - está no patamar dos 30%, ou seja, no limite superior entre a pobreza e a não pobreza. <br /><br />http://hdr.undp.org/en/statistics/mpi/ (link disponível dissertando acerca do MPI)<br />http://www.ophi.org.uk/wp-content/uploads/Brazil.pdf (link específico do Brasil)<br /><br />Aguardemos agora a divulgação do IDH 2010.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-23128553923640355442010-10-15T01:53:00.001-07:002010-10-15T01:53:53.708-07:00Olá, amigos do Blog!<br /><br />Sei que preciso atualizá-lo mais e agora farei isso com mais frequência para que sempre que vcs passem por aí tenha alguma novidade!Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-86325715863997723632010-10-05T10:01:00.001-07:002010-10-05T10:05:48.221-07:00O Engodo Capitalista<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIZAnzxvNEF5FaZtSgSGmaD2jJI1tdHg9cmicuSIotSB3R31Q5a-8_epIcnn3leMEwoRgjs1-WBjskCnxNIZHi98kEZ-qGZQYQkT9mTJ1kYaOlywsBeWH1fUTFVZH_sFDTkrfqqPOTv-M2/s1600/ricos.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIZAnzxvNEF5FaZtSgSGmaD2jJI1tdHg9cmicuSIotSB3R31Q5a-8_epIcnn3leMEwoRgjs1-WBjskCnxNIZHi98kEZ-qGZQYQkT9mTJ1kYaOlywsBeWH1fUTFVZH_sFDTkrfqqPOTv-M2/s400/ricos.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5524608434394063394" /></a><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjurBNFGvG4OIIelwqzf5_Yly8g7XCGoImB8Ll5iBEZ71Y_sLTcbE4Pr7nm_KY2KdvBmIpkDGYEvbr9Jvlftwvl4anc_-EcURUkjsigam8bUtBIJhTGDjO4WqywCdMYiVJjqOERl_oVrkVK/s1600/pobres.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 259px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjurBNFGvG4OIIelwqzf5_Yly8g7XCGoImB8Ll5iBEZ71Y_sLTcbE4Pr7nm_KY2KdvBmIpkDGYEvbr9Jvlftwvl4anc_-EcURUkjsigam8bUtBIJhTGDjO4WqywCdMYiVJjqOERl_oVrkVK/s400/pobres.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5524608331251416898" /></a><br /><br /><br />O capitalismo, para esclarecimento, baseia-se num sistema econômico em que a maior parte do capital é privada, isto é, encontra-se na mão de pessoas e não do Estado. O mercado deve ser gerido “livremente” e “espontaneamente”, sem que haja a interferência do Estado (no caso do neoliberalismo máximo) ou com pouca interferência do Estado (no liberalismo). Existe ainda uma corrente denominada anarco-capitalista, que acredita não haver necessidade de um Estado (nem para garantir os direitos básicos de um cidadão), pois a Economia se autorregularia.<br /> <br />A característica marcante para se obter o capital em um sistema capitalista é a obtenção do lucro. O lucro, por sua vez, pressupõe o aumento e a acumulação do capital. Como isso ocorre? De várias maneiras. Quando se compra um apartamento, por exemplo, não para morar, mas para investir. Provavelmente a pessoa que comprou fez um estudo daquela área e viu que ela tende à valorização. Dessa forma, caso paguemos 130 mil num apartamento, ao final, podemos vendê-lo por 260 mil, sendo que a inflação real desde a compra, até a venda foi de 10%. Caso não tivesse havido nenhuma valorização, então o apartamento valeria 143 mil reais e não existiria acúmulo de capital. Porém, como o imóvel passou a valer 260 mil, então ocorreu uma valorização real de 55%, portanto o lucro gerado foi de 55%. Outro exemplo ocorre com as lojas, sejam as mais diversas. O custo final de um produto decorre da matéria prima + mão de obra + despesas + lucro. Mas o lucro é legítimo, o lucro é ético? <br />Para respondermos a essa questão, devemos pensar nos preceitos de uma vida social. Pode coexistir cooperação e disputa ao mesmo tempo? Se sim, como? Pode um cidadão lucrar, isto é, ter vantagem sobre o outro (pois no lucro há sempre o que ganha, mas, em contrapartida, há sempre o que perde)? Ainda que consideremos o lucro legítimo alicerçado por um argumento meritocrático, como, caso todos resolvessem lucrar, uma sociedade capitalista funcionaria? Em outras palavras, se todos fossem donos do capital, qual/quem seria a força de trabalho, o proletariado? Como se daria a relação entre empregador e empregado se essa passaria a não existir? A partir dessas indagações fica óbvio que em um sistema capitalista, sempre haverá os que perdem e os que ganham, pois ele próprio se destruiria caso houvesse uma equiparação de capitais. E, nessa perspectiva, como poderia funcionar um sistema em que todos resolvessem estudar, instruir-se e ocupar cargos considerados altos ou ainda caso todos resolvessem ser empreendedores? O sistema simplesmente ruiria, pois as dicotomias entre capital x empregado entre o que lucra x o que perde estariam acabadas. <br /><br />Decorre do problema gerado acima uma outra premissa falsa do capitalismo: a ideia de mobilidade social. Falsa, pois o capitalismo prega que todos podem construir uma vida melhor caso batalhem para isso (em oposição ao sistema feudal, por exemplo, em que a mobilidade social é praticamente nula). O que os defensores do sistema capitalista se esquecem de dizer é que a mobilidade social, embora ocorra de fato, é limitadíssima e o próprio sistema a limita. Não há espaço para grandes mobilidades sociais e se essas acontecem há prejuízo de outros grupos sociais. Peguemos o exemplo brasileiro atual que é a ascensão da classe C, ou seja, a subida na pirâmide social de uma camada da população que outrora era considera pobre e agora passa a integrar a classe média baixa. Pode ser que, em um contexto nacional, nenhuma pessoa esteja perdendo e, por isso, encontramos dificuldades em perceber isso. Mas em um panorama global será que não houve perda? Para ilustrar melhor a situação, ainda que praticamente todos os países do globo tenham melhorado de situação, caso os seus dados sejam comparados aos de 1970, a diferença entre os países ricos e pobres aumentou. O PIB per capita dos países ricos cresceu mais que o dobro de 1970 até hoje em comparação com os países pobres, ou seja, apesar de ter havido uma melhoria geral, a DIFERENÇA, que é o cerne capitalista não se alterou. Voltemos agora ao Brasil. Apesar de os indicadores sociais terem aumentado para todos, a concentração de renda medida pelo índice GINI permaneceu praticamente inalterada. Na verdade, o GINI brasileiro de 1960 era mais baixo, ou seja, o Brasil era mais igual que o GINI dos anos 90. Durante a época da ditadura, apesar de ter ocorrido o “milagre econômico” e o Brasil ter crescido, em média 7% ao ano, a concentração de renda e o GINI brasileiro só aumentaram. Após anos de aumento, finalmente, com a implantação do Plano Real e, posteriormente com o governo Lula, o GINI começou a cair de maneira discreta. Ainda assim, a queda é praticamente irrisória. Se não houve grande diferença na concentração de renda no Brasil, podemos falar de fato em uma igualdade social ou apenas na melhoria geral dos brasileiros em que a diferença entre ricos e pobres permaneceu praticamente inalterada? <br /><br />Mais uma vez fica claro que a diferença entre classes sociais, a ideia falsa de ascensão social para todos e o estreitamento das diferenças são prerrogativas inatingíveis pelo capitalismo. Por conseguinte, como podemos viver de maneira social pensando de maneira individual? Parece-me muito contraditório ao ponto de o status quo ser bem temeroso em relação a isso, moldando-nos, como já dizia Althusser, através de aparelhos ideológicos de estado (AIE) e os aparelhos coercitivos de estado (ACE). Claro que essa moldura é sutil e difícil de ser percebida, pois uma vez que já nasçamos com a ideologia capitalista, tendemos a interiorizar essas ideias como sendo naturais e achando absurdas e utópicas outras concepções político-filosóficas de meios de produção. Mais absurdo ainda é quando pegamos exemplos mal sucedidos de implantação de outros sistemas ao redor do mundo. Mas será que esses sistemas funcionaram conforme os seus precursores pensavam e mais será que a implantação desses sistemas e as suas possíveis falhas não foram bem engendradas pelos próprios capitalistas a fim de minar qualquer possibilidade de que outros países adotassem DE FATO outras ideologias?Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-44558532136636679602010-08-27T14:45:00.000-07:002010-08-27T14:46:58.080-07:00O Paradoxo da Classe C: Onde ela está?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPp8DHRhkN649NBcsaD8_RT7cmFVM0B8pdy6UXj_od3B58aFnBMhX8dtax4mKJ8HZevKyQZb0wAbpA7bJXnuF4JEfPybLr8uUzu_qjwm5vNNn_pT6FDY1ILi6ojCFm5XKEsfA3QQbfZg1M/s1600/pontodeinterroga%C3%A7ao.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 300px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPp8DHRhkN649NBcsaD8_RT7cmFVM0B8pdy6UXj_od3B58aFnBMhX8dtax4mKJ8HZevKyQZb0wAbpA7bJXnuF4JEfPybLr8uUzu_qjwm5vNNn_pT6FDY1ILi6ojCFm5XKEsfA3QQbfZg1M/s400/pontodeinterroga%C3%A7ao.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5510209277407332578" /></a><br /><br />O Paradoxo da Classe C: Onde ela está?<br /><br />Desde 2008, com a divulgação de dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), IBGE e IPEA (Instituto de Pesquisas Econômica e Aplicada), uma nova classe, até então pouco relevante, surgiu como o pilar da economia brasileira, tornando-se a grande vedete do comércio, da consolidação da classe média e da diminuição da pobreza no Brasil. É a classe C, a nova classe média. Mas o que é a classe C? Ela é de fato classe média? <br /><br />Existem algumas discordâncias para estabelecer exatamente quem pertence à classe C. Para a FGV, famílias que ganhem entre 1.115 a 4807 reais pertencem a essa camada, ou seja, a camada média na pirâmide social brasileira. Um grande problema já decorre exatamente desse intervalo tão longo de mais de quatro vezes entre os limites inferior e superior. Outro problema é a não-análise da renda per capita dessas famílias. É muito difícil acreditar que uma pessoa que viva sozinha e ganhe 4.800 reais pertença à mesma classe social de uma família com cinco pessoas com rendimentos de 1.200 reais. Não seria o critério da renda per capita mais interessante e real? <br /><br />Já para o IBGE, a classificação mais usual é a de que a Classe C se situe entre famílias com rendimento entre 3 a 10 salários mínimos. Mais uma vez, uma metodologia pouco esclarecedora e equivocada. Três salários mínimos são 1530 reais, 10 salários mínimos são 5100 reais. O triplo de diferença. Além disso, mais uma vez, é irreal pensar que uma família de cinco pessoas que tenha renda mensal de 1600 reais pertença à mesma classe de uma composta por um casal, por exemplo, com ganhos de cinco mil reais. <br /><br />Dessa forma, podemos concluir, a priori, uma conceituação muito confusa do que seja a nova classe média brasileira. Claro que, quando se fala em classes sociais, há os intervalos máximos e mínimos, mas esses intervalos devem estabelecer as necessidades mínimas que caracterizem certa classe social, o que não ocorre com nenhum dos dois critérios;<br /><br />Em primeiro lugar, devemos pensar o que é a classe média? Para o senso comum e para os principais institutos de pesquisa, classe média é a faixa da população que se situa entre a elite e a pobreza, por isso média. Para isso, contudo, os indivíduos desse segmento social devem apresentar algumas semelhanças: ter dinheiro para prover a alimentação de todos do lar, casa, vestuário, transporte, lazer. É justamente esses fatores, dentre outros, que separam a classe média da pobreza. <br /><br />Em segundo lugar, há a necessidade de se pensar no custo de vida médio do país e talvez até por regiões, quando são estabelecidos os intervalos de classificação. Nesse contexto, que entra uma grande contradição entre os diferentes institutos de pesquisa. Para o DIEESE, que analisa o custo de vida nas principais cidades brasileiras, para uma família de quatro pessoas, manter-se minimamente com todos os preceitos mínimos do que seria o limite inferior da classe média, o rendimento deveria se situar na faixa dos 2.000 reais. <br /><br />Em conseqüência do segundo problema, temos a divergência do que os principais institutos de pesquisa consideram classe média e o custo de vida real para pertencer à classe media. Pelo menos, acharíamos estranho, dentro desse contexto, acreditar que uma família de quatro pesssoas que ganhe menos de 2.000 reais pertença à classe média. Erro maior ainda é colocar dentro da mesma categoria pessoas que vivem com mais de duas vezes o necessário e pessoas que sobrevivem com quase a metade do necessário. O único contra-argumento plausível seria por em xeque a credibilidade do Dieese ao se analisar o mínimo necessário. Para isso, no entanto, precisaríamos de outras fontes que calculassem esse valor e como carecemos delas, até podemos questionar esses valores, mas não usar como referência outros institutos. Se não usarmos esse parâmetro, então utilizaremos qual? <br /><br />Partindo dessa remuneração mínima, seria interessante agora nos perguntamos qual a parcela da classe C que se situa na faixa dos 1.200 aos 2.000 reais? Segundo o governo, pegando como referência a FGV, mais da metade dos brasileiros fazem parte da classe C. Mas nada mencionam sobre os que fazem parte da classe C cujos rendimentos familiares estejam entre 1.200 a 2.000 reais. <br /><br />Um outro problema ao se falar da ascensão de pessoas das classes D e E (as categorias mais baixas da pirâmide social) ocorre quando inserimos outros dados na análise. A concentração de renda no Brasil, embora tenha caído, segundo as principais entidades de pesquisas e indicadores, ainda permanece muito alta. Ademais, a queda foi discreta. E mais, o Brasil permanece, segundo a ONU, como um dos países mais desiguais do mundo. Segundo as Nações Unidas, a diferença entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres no Brasil é a quinta maior do mundo, empatando com o Equador e ficando a frente somente de países como Bolívia, Madagáscar, Tailândia, Haiti e Camarões. Ora, se houve real ascensão da camada mais baixa da população para a classe C, como os indicadores de disparidades sociais caíram tão pouco?<br /><br />Não seria mais interessante pensar que houve um aumento real de salário de uma maneira geral dos brasileiros e não de ascensão social? Por exemplo, com relativa estabilidade financeira, ajudas sociais do governo e maior oferta de crédito, a grande massa da classe D passou a ser considerada classe C. Quem antes tinha rendimento mensal de 800 reais, passou a ter rendimento mensal de 1.200 reais, por exemplo. Mas será que a vida delas de fato melhorou ou esse aumento de salário acompanhou o aumento da inflação? Qual ganho real teve essa pessoa cujo rendimento passou de 800 para 1.200? Além disso, o poder de compra dela de fato aumentou ou ficou facilitado por empréstimos, cartões de crédito e parcelas a perder de vista? É difícil pensar numa ascensão tão brutal das classes mais baixas para a classe C, sendo que a distribuição de renda brasileira não sofreu muita alteração. Como isso se deu então? E se houve uma melhoria no Brasil por que o país despencou dez posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado anualmente pela ONU? É verdade que o IDH brasileiro melhorou, mas menos que a média mundial, o que fez com que o país perdesse algumas posições. Mas se houve grande ascensão social, se a classe média agora é majoritária no país, então algumas dessas pesquisas ou mais de uma está bastante equivocada. Todos os dados, quando comparados, entram em paradoxo e criam conflitos. Onde está a classe C?Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-23357731226975514022010-06-05T00:55:00.000-07:002010-06-05T00:58:13.249-07:00Seção PoesiaEscavei-me até me singularizar<br />E nas obscuridades quase nunca reveladas<br />É essência!<br />Capaz multifacetadas não mostrarão<br />É pseudosocialização <br />É sensibilidade hipócrita, torta <br />De tanto afinco em tê-la, quase morta <br />De tanto desprazer em tê-la<br />Você, vocês infelizes<br />Abra o sorriso numa boa ação<br />Enrubesça de raiva na injustiça<br />É virtude, é humano, é pluralidade<br />É atestado de sanidade! <br />Escava-te não<br />É corrida na contra mão<br />É insanidade, desumano, singular<br />Pluralmente feliz<br />Singularmente infeliz<br />Pseudopluramente feliz <br />Singular em essência?<br />Alguém já quis?<br />Escavai-me demais<br />Isso há um tempo atrás<br />Singularizei-me pluralmente<br />Tornei-me essência <br />Mas fechei <br />Vieram caminhões com muita terra<br />Hermeticamente fecharam<br />O buraco escavado<br />Singularize-me e voltei<br />Agora eu, você e vocês<br />INFELIZES!Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-10246744995170065062010-06-03T14:40:00.000-07:002010-06-04T22:37:10.517-07:00No Fashion Rio- Evy, dá para você me filmar direito! – gritava Estefany agoniada. – Eu tô bonita, migo? A maquiagem tá boa?<br /><br /> Everaldo mal se agüentava atrás das câmeras. Apesar da grande amizade que tinha por Estefany, aquela situação não estava sendo nada favorável a ele. Depois de um cursinho de Moda, que já havia terminado há um ano, Everaldo tentava sem sucesso um emprego no ramo. Mas nunca tinha conseguido uma festa vip, um convite para qualquer desfile. Nada! “Isso tudo porque eu sou pobre, lamentava”. O ego, ou talvez pseudoego do rapaz de 20 anos, no entanto, logo retrucava “Posso ser pobre, mas tenho estilo. Sou puro glam.” <br /><br /> Naquele momento, o aspirante a estilista, estava ali. Atrás do foco, por trás dos bastidores. E a estrela não era ele. Sua amiga, Estefany estava no ápice egocêntrico de um ser humano. Mas o ápice, paradoxalmente, sempre poderia ser mais ápice. De maneira bem pobre e inversamente: o fundo do poço sempre pode ser mais fundo, logo o ápice egocêntrico sempre pode ser mais alto. A disputa ali era boa. Uma espécie de guerra fria. Ambos querendo aparecer mais que o outro. E, apesar da longa amizade, quase fraterna, naquele momento eles eram rivais: a briga para aparecer na frente das câmeras e não atrás. <br /><br /> Mergulhado em seus planos e pretensões, Everaldo se esqueceu da amiga. Estava quase em um transe hipnótico vislumbrando o momento em que todos os flashes seriam para ele e, com a cara mais blasé do mundo, metodicamente pré-ensaiada no espelho de casa, o rapaz falaria algo do tipo: “Não ligo para a fama.” Pronto. O personagem seria construído. <br /><br />- Everaldo Gotardo! – implicava Estefany. – Você não percebeu que eu já acabei de falar? Vai ficar aí me filmando ainda? – e continuava – Tá pensando em que?<br /><br /> Por um momento, as divagações simplistas daquela mente juvenil haviam feito o rapaz se esquecer daquele vídeo tão importante. Ainda que ele estivesse por trás, aquela filmagem poderia ser um passaporte para ele: os dois estavam concorrendo a uma promoção da FM o dia. O ganhador teria direito a um convite duplo para assistir ao Fashion Rio. E mais: direito ao assento na fila A em um dos desfiles da marca mais famosa do momento. Pronto! Era meio caminho para o luxo! E nesse barco, o ego dos dois era complementar. Era quase altruísta. Porque um dependia do outro. Logo, Everaldo queria que Estefany saísse linda, que a maquiagem estivesse ótima e que o vídeo fosse um sucesso. <br /><br />- Pena que a gente não pode postar no Youtube ainda! – lamentava Estefany. – Eu acho que ficou ótimo! E você, amigo? <br /><br />- Ficou divino! Achei superdigno! – falava Everaldo ainda meio nauseado daquele transe fugaz rumo ao estrelato. <br /><br />- Eu tô parecendo alta? Tô magra? Você acha que o que eu falei vai agradar as pessoas? – e não cessavam as perguntas de Estefany. <br /><br /> Everaldo somente acenava que sim com a cabeça. Naquele momento, ele estava em outra. Já fazia planos e pensava na maneira de se comportar quando estivesse na Fila A diante de muitas celebridades. Mas faltava, é claro, ganhar a promoção. <br /><br />- Vamos para casa agora? – dizia Estefany. – Longo caminho! Ai, não agüento mais morar tão longe. Essa vida de pegar trem não é para mim! Eu sou alta, tenho 1,70, é uma altura boa para mulher, né Evy? – e emendava sem deixar o rapaz responder. – E no mais, com meu salto eu fico com 1.80. Por que será que ainda nenhum caça-talentos me encontrou? Acho que temos que voltar mais aqui ao Leblon, Evy! <br /><br /> Depois de um dia perdido com uma filmagem de menos de cinco minutos no Mirante do Leblon, Estefany e Everaldo iriam se preparar agora para uma longa jornada até São João de Meriti. Geralmente pegavam o metrô até a Pavuna e depois um ônibus. Mas ela ainda queria passar no shopping para comprar roupas. E, por isso, era mais fácil pegar o trem, embora fosse menos glamouroso. <br /><br /> - Se a gente ganhar a promoção, Evy, não vamos falar que moramos em São João de Meriti lá no Fashion Rio não! <br /><br /> - Claro que não, né, amiga! – o pessoal nos olharia completamente torto. – A gente fala que mora no Rio, afinal a Pavuna fica pertinho da nossa casa. – Muito mais status! – Everaldo já havia voltado do transe e falava agora com um certo entusiasmo. <br /><br /> - É, mas morar na Pavuna também não é grandes coisas, né? A gente pode inventar uma historinha, amigo! – e parou um tempo para pensar. – Porque eu não quero ir naquele quadro do Faustão quando eu ficar famosa e ter que ouvir dele: “Estefany, garota pobre que venceu na vida.” Isso soa clichê demais, né? Mesmo porque eu já faço faculdade e você tem o seu cursinho de Moda. – e emendou – Não! Definitivamente não! Vamos falar que moramos em uma casa confortável na Pavuna e que adoramos morar aqui! <br /><br /> Finalmente, houve um longo período de silêncio. O ego de ambos agora estava milimetricamente diminuindo. Parecia ensaio. Pouco a pouco. Bem paulatinamente. Quanto mais longe do Leblon, quanto mais próximo de casa, a vaidade ia se esvaindo. O processo, contudo, começou a se inverter assim que eles pegaram o trem. Principalmente Estefany. <br /><br /> - Evy! – sussurava a garota. – Aquela senhora tá olhando para mim! Você a conhece?<br /><br /> - Acho que não! – e o rapaz analisava melhor aquela senhora de óculos. – Mas é para você ou para mim? <br /><br /> - Claro que é para mim! – Estefany se invocou. – Quantos vídeos você tem no Youtube? Eu tenho mais de 40. E já foram mais de 200 visitas. Aposto que ela me reconheceu!<br /><br /> - Mas eu também tenho vários vídeos no Youtube! E no mais, se não fosse por mim você não teria vídeo nenhum! Eu que comprei a câmera! Não seja esnobe e mal agradecida! <br /><br /> A garota ignorou a última fala do amigo. A senhora se aproximava cada vez mais. E ambos não a reconheciam. Seria uma fã dos dois? A agitação bateu forte. O ego, agora sorrateiramente, inflou. Dos dois. Para quem seria o olhar daquela idosa? <br /><br /> - Estefany! – gritou a senhora. – Quanto tempo! Que saudades em reencontrá-la! – falava empolgada Dona Úrsula. <br /><br /> - Ah.. ah! – quase que em tom de velório Estefany mal conseguia responder. “Que lamento”. – Mas é você Dona Úrsula?<br /><br /> - Ai, querida! – ria a velha, com um sorriso simpático. – Eu pintei meus cabelos e agora estou usando óculos para vista cansada. – E faz tanto tempo que não nos víamos, né! Eu sei que estou quase irreconhecível! – e a empolgação continuava. – Como está a sua mãe? E você? Também está tão mudada! Cresceu, ficou alta... eu mal te reconheci! <br /><br />- Mal me reconheceu? – disse Estefany em tom fúnebre. – Ah tá! A senhora está bem?<br /><br /> Everaldo se controlava para não soltar uma gargalhada que chamaria a atenção de todo o trem. Era visível a decepção da garota. “Ela pensando que seria reconhecia por causa de alguns vídeos no Youtube.” E controlava para não rir. <br /> Em um rompante de esperança, Estefany tentou lançar a última cartada:<br /><br />- Mas se estou tão diferente assim, como a senhora me reconheceu? Por acaso você viu algum vídeo meu no Youtube? <br /><br /> -´Como?? – não entendia a senhora!<br /><br /> - No YOU-TUBE! – repetia vagarosamente a garota. <br /><br /> - O que é isso, minha querida? Não tô entendendo! <br /><br /> - Aquele site da internet que hospedava vídeos! – e a esperança estava novamente indo embora. <br /><br /> - Ah minha filha! – pôs-se rir Dona Úrsula. – Eu nem mexo na Internet. Para mim isso é grego. É coisa para jovens, né? – riu sozinha. – Eu reparei bem, e me perdoe, mas o seu quadril largo não muda. Acho lindo. E depois essa pinta aí acima do umbigo é única. – e emendou. – Aliás, com tanto decote, não está com frio, querida? <br /><br /> - Não tô não! – Estefany estava quase mirando a jugular de Dona Úrsula. <br /><br /> ***<br /><br /> À noite, antes de dormir, aquele encontro ainda martelava na cabeça de Estefany. <br /><br /> - Você acha que eu tenho o quadril largo, Everaldo? <br /><br /> - Não, não, está ótimo! – e o rapaz segurava para não dar um risinho. <br /><br /> - Mas você acha que eu posso ser modelo com esse corpo?<br />- Claro, claro! – e se segurava para não rir. Você está ótima. – a hipocrisia reinava. <br /><br />“Coitado do Everaldo, a beleza não compareceu na sua estética’, pensava Estefany. <br /><br />- Bem, vamos dormir que amanhã já sai o resultado da promoção! E eu já até comprei as roupas caso eu vença. Estou preparada. Beijos, Evy! <br /><br /> ***<br /> <br /> Estefanie e Everaldo aguardavam ansiosamente. Eram quatro horas da tarde e a promoção da FM o Dia seria divulgada em breve. Os dois mal se continham. Desejo, esperança, fama, riqueza, sucesso, tudo amalgamado, embaralhado, mixado, no final, tudo se resumia ao ego mesmo. Os dois já faziam planos para o Fashion Rio. O único medo de Everaldo era a roupa. Naquele mês não havia sobrado nenhuma grana para comprar roupa. E justamente quando ele mais precisava. Não dava para parcelas nem na C&A. Mas ele também não queria. Preferia ir com a camisa da Osklen já um pouco surrada. Mas era Osklen, né? O glamour máximo daquela mente regional. <br /> O locutor fazia suspense. A hora se aproximava. “E o ganhador é...vamos aos intervalos e divulgaremos no próximo bloco.”<br /><br /> - Assim, vou ter um ataque do coração! – berrava Estefany. <br /> - Eu também, eu também! Será que temos chance?<br /><br /> “E o ganhador da promoção é Estefany Pereira da Silva. Foi o vídeo mais legal que a nossa produção recebeu. Daqui a pouco estaremos entrando em contato com a ouvinte que vai assistir a um desfile no Fashion Rio na fila A e com direito a um acompanhante. Parabéns!”<br /><br /> Os dois se entreolharam. Mal podiam acreditar no que tinham acabado de ouvir. Todo o afã em ver o Fashion Rio, as modelos, as celebridades estava agora realizado. E, embora pudesse parecer fútil para alguns, aquele sentimento era bem legítimo, bem transparente, bem sincero. Sonhos são questionáveis e separados na categoria de fútil e não fútil? Querer ganhar na loto é fútil? Querer se tornar grande é fútil? Famoso? Celebridade? Reconhecido? Colocar seu nome na história? Perpetuar seu nome, mesmo após anos e anos de morto! É fútil? O que é fútil? O que não é? Filosofia barata? Sonhar não é a maneira mais humana de se integrar ao mundo? <br /><br /> ***<br /><br />- Estefany! – falava o produtor do programa do outro lado da linha. – Preciso que você me fala o nome completo de quem vai com você assistir ao desfile. <br /><br /> A garota estava hesitante. Pensou, pensou:<br /><br /> - É... é... Eve.. quer dizer... – e num relance, como se tivesse criado coragem para falar disse: - Josicleide Souza dos Santos. <br /><br /> - Como? – berrou Everaldo com Estefany. – Eu entendi direito? – e falava num tom muito nervoso. <br /><br />A garota totalmente sem graça tentou argumentar algo com Everaldo. Foi em vão. O rapaz já havia pegado o telefone das mãos de Estefany. <br /><br />- Escuta aqui, meu senhor... – e gaguejava de nervosismo. – Quem fez o vídeo dela fui eu! Eu que vou com ela ao Fashion Rio! <br /><br />- Lamento lhe informar, mas quem se inscreveu na promoção e os dados são dela. Ela tem o direito de escolher quem ela quiser!<br /><br />- Mas eu que fiz o vídeo! – repetiu Everaldo. – E ela me prometeu que, caso ganhasse, eu seria o convidado. <br /><br /> - Meu senhor, isso não está nas regras do concurso. - e ratificou. – A vencedora é ela. Ela quem decide. Infelizmente não posso fazer nada. O nome da amiga dela já está aqui anotado. E desligou. <br /><br /> Diante da reação de Everaldo, Estefany estava agora chorando copiosamente. Ela havia agido como uma verdadeira vilã de novela mexicana. E o pior bem na frente do amigo. Não era apunhalada nas costas não, era no coração mesmo. De frente. Ao melhor estilo: sou má e não engano, te fiz de babaca. <br /><br />- Por que você fez isso? – vociferava Everaldo, sacudindo a garota em prantos. – Por quê? <br /><br />- Você... – e soluçava a garota sem conseguir terminar uma palavra. Semi-afônica. – Você... é... você não tem roupa bonita para ir! <br /><br />- Como é que é? – berrou e berrou Everaldo. <br /><br />Por fim, entrou no banheiro e bateu a porta. Estefany só fez chorar. <br /><br /> ***<br /><br /> O grande dia tinha chegado para Estefany,para Everaldo era uma dupla decepção: a traição da amiga e não poder ir. Aquela traição, colocou a amizade dos dois em xeque. O rapaz já estava pronto para sair daquele apartamento alugado pelos dois. Ele iria procurar um menor. Não toleraria ficar com uma pessoa que, de maneira tão egoísta, fútil e egocêntrica, tinha praticamente aniquilado o sonho do rapaz. <br /><br />- Mas por que a Josicleide? – pergunta ainda inconformado o garoto. Por quê?<br /><br />- Não me faça sofrer, Evy! – Eu tenho que ficar bonita para hoje. Não vê que é a <br />realização do meu sonho?<br /><br /> - Você ainda tem coragem de me chamar de Evy? Não tem vergonha nessa sua cara de cavalo? E esse seu quadril largo? Você acha que vai arrasar nesse seu jeans skinny? Ta parecendo uma tanajura. <br /><br /> - Você pode me humilhar, Everaldo! Eu sei que você está magoado comigo. Eu entendo isso, mas eu tenho que pensar em mim primeiro. A Josicleide mora na Tijuca e tem roupas bonitas. <br /><br /> - Pera aí, você ta me trocando por uma garota que você mal conhece por que ela mora na Tijuca e tem roupas bonitas? A nossa amizade vale isso? <br /><br /> - Evy, não é isso! – e lamentava a garota – Você parece que não entende. Com ela, eu ganho mais visibilidade, tenho mais chances. E se eu conseguir algo, pode ter certeza que a primeira pessoa que eu ajudarei é você. Eu estou fazendo isso de coração. Eu prometo que assim que eu ganhar algum dinheiro como modelo, sairemos daqui e alugaremos um apartamento maior, em um outro lugar. <br /><br /> - Só não te dou um soco na cara porque não quero ser preso por agressão a mulher! Já estou enganado das suas atitudes egoístas sendo sempre justificadas por “eu vou te ajudar no futuro”, “faço isso pela gente”. Você também me prometeu que eu seria seu convidado para o Fashion Rio e quem você chamou? Você não honra as suas palavras. – e continuou tomando um pouco de ar. – Pode arranjar outra pessoa para dividir o apartamento porque eu saio daqui essa semana ainda. <br /><br /> Mas Estefany já estava praticamente pronta. E tinha que estar impecável. Ainda que o blush não fosse Lancôme, a roupa não fosse Osklen. Mas, pelo menos, ela tinha que disfarçar que era pobre. Já havia combinado com Josicleide. As duas dividiam um apartamento na Tijuca. <br /><br /> ***<br /><br />Para lá e para cá, completamente deslumbrada e ofegante, Estefany zanzava pelo Fashion Rio com a recém “best friend” Josicleide. Uma mão lava a outra, né? Josicleide achava Estefany breguíssima, mas não podia recusar o convite de um desfile concorrido na fila A. E ainda que pudesse se queimar, era melhor aceitar a mentirinha de que as duas moravam juntas na Tijuca. “Dos males o menor. Pelo menos vou assistir aos desfiles”, pensou Josi.<br /><br />- Olha! – berrou Estefany. – É aquela atriz! É ela! – ofegante Estefany foi atrás quase que reverenciando uma Deusa. <br /><br />- Tira uma foto, comigo? – e completou. – Admiro o seu trabalho. Vejo sempre você na TV! Você é linda! <br /><br /> A famosa atriz apenas respondeu com um lacônico obrigado. E tirou a foto com Estefany. A garota não se deixou abalar, pelo contrário ficou ainda mais atônita. <br /><br />- Quanto glamour, né Josicleide? Quanta gente famosa, bonita! Espero que me notem também. Afinal de contas eu acho que não deixo a dever a essas famosas não. Eu também sou muito bonita, né?<br /><br /> Josicleide estava ali graças a Estefany. E seria deselegante contrariá-la. Estefany, para Josicleide, vestia-se de maneira cafona. Na verdade, a tijucana estava morrendo de vergonha da garota. “Calça skinny com esse quadril largo de tanajura. Que suburbana!”, riu sozinha. <br /><br />- Amiga, já já vamos entrar na fila A. Já treinou a cara de blasé no espelho? Provavelmente vão pedir até para tirar foto com a gente. E eu estou um arraso, né? <br /><br />Dessa vez, Josicleide não agüentou e deu uma leve risada que foi percebida pela garota.<br /><br />- O que foi? Você acha que estou feia?<br /><br />- Jamais! – com toda falsidade do mundo. – Você está deslumbrante. – Apenas estava rindo porque estou feliz de estar aqui! <br /><br />- Ah que bom amiga! – e um leve sentimento de remorso bateu em Estefany. “Mas eu não poderia trazê-lo. Ele é cafona demais.” <br /><br /> Quando as duas entraram, uma leve decepção invadiu a além-carioca. A sala, onde seria realizado o desfile, não era tão glamourosa quanto parecia ser pelas fotos e pelos vídeos que havia visto. E ademais, a fila A, apesar de ser a primeira, não era nada de tão especial. Não tinha cadeiras especiais, não recebia champanhe ou um tratamento diferenciado. A decepção, no entanto, foi tão fugaz quanto o remorso por não ter chamado Everaldo. Logo, logo, a primeira fila de encheu de celebridade e os flashes começaram. Agora ela tinha que chamar atenção de alguma forma. Ela lutou por estar ali. Horas e horas de vídeo. Maquiagem, roupa, produção. E um texto, diga-se de passagem, bem competente falando o porquê de ela merecer estar no Fashion Rio. Não se podia negar um certo talento que ela tinha para escrita. Principalmente quando um assunto a empolgava demais. <br /><br /> - Ali, Josicleide! – Ali! – berrou. É o chefão daquela agência de modelos famosa. Minha chance. Vou falar com ele! – e correu atrás do senhor de meia-idade. <br /><br /> - Oi! – falava Estefany toda exibida e interrompendo uma conversa que ele estava tendo com um jornalista. A garota foi ignorada.<br /><br />“Hmmm ele não escutou”<br /><br />- Oi! – dessa vez ainda mais alto. – Posso falar com o senhor?<br /><br /> O homem interrompeu a entrevista que estava dando para atender a garota. <br /><br />- Sim? Você é de qual jornal? – perguntou o senhor. <br /><br /> - Na verdade de jornal nenhum. – e continuou empolgada. – Vim aqui conversar com você porque quero muito ser modelo. Já fiz alguns cursos de postura e passarela e todos foram unânimes em falar que eu deveria tentar! <br /><br /> O homem a examinou com a maior cara de bunda do mundo. Nem adianta explicar detalhadamente, mas uma palavra resume bem: inefável a cara que ele a olhou. Por fim, foi curto e direito:<br /><br />- Não dá! – e virou para continuar a entrevista com o jornalista. <br /><br />- Mas como não dá? – perguntou Estefany em choque<br /><br />Sua pergunta foi em vão. O dono da agência já havia se virado para continuar a entrevista. <br /><br />Encabulada, desapontada, afônica, a garota estava em choque. Nem havia percebido o risinho debochado de Josicleide. Já não fazia muito mais sentido estar ali. A Fila A se transformou em um ícone de tristeza. Os seus sonhos, todos construídos de maneira árdua, enfim haviam terminado. <br /><br />- Estefany! – e deleitava-se Josicleide, mas disfarçando bem. – É apenas a opinião de uma pessoa. Você já não viu na televisão que mesmo as modelos famosas já receberam vários “nãos” um dia? Vai desistir tão fácil? <br /><br /> Apesar de falsa, aquela fala de Josicleide tinha retomado a esperança da aspirante à modelo. O que a tijucana queria, no entanto, era cruel: ver Estefany sendo alvo de chacota e fruir com isso. Maldade mesmo! Moral da vida? Velho clichê? Quem com ferro fere será ferido? Estefany feriu Everaldo. Ela estava sendo ferida agora? Isso soa por demais simplista, clichê e propositalmente redundante como lugar-comum. Mas era esse lugar-comum que de comum era tão explícito que, paradoxalmente, Estefany parecia cega: ela não tinha a menor possibilidade de ser modelo. <br /> Os nãos um atrás do outro só foram esquecidos quando Estefany se espantou com a presença de Everaldo. Sim, ele estava ali. Como? <br /><br />- Hã?? – se espantou Estefany. <br /><br /> - Pois é, querida! Fui à luta! – e falava orgulhoso como se tivesse acabado de conquistar um troféu. – Entrei numa Lan House e consegui convite numa promoção do Twitter. <br /><br /> - Mas você está com uma roupa muito feia! – se espantou. <br /><br /> - Feia? Isso daqui eu customizei. Fiz um trabalho artesanal ontem e guardei. Tiraram foto minha, fiz contatos e parece que eu vou conseguir trabalhar como assistente de produção de uma figurinha bem famosa. E você?<br /><br /> Estefany se sentiu mal. Amparada por Josicleide a moça foi aos poucos perdendo os sentidos. De repente, todo o sonho da garota tinha se concretizado. Os flashes se voltaram para ela. Várias fotos e alguma confusão em torno da garota. Mas ela estava sem vida naquele momento para poder brilhar. Não tinha glamour aquelas fotos, não tinha maquiagem, sorrisos, ostentações. Era apenas uma garota desmaiada. <br /><br />- Acho que a pressão dela caiu! – disse Josicleide nervosa, mas muito feliz com a atenção que estava recebendo. – Ela sofreu muita decepção hoje. <br /><br /> Não demorou muito e a garota retomou os sentidos. Depois disso, quase todos se afastaram. Alguns poucos foram perguntar se ela estava se sentindo melhor. Passados cinco minutos, lá estava ela no Píer Mauá. Novamente anônima. E sem vontade nenhuma de estar mais ali. O show havia terminado. Era hora de pegar o metro e depois um ônibus para casa. <br /><br /> ***<br /><br />- Você não vai acreditar, Everaldo! <br /><br />- O que?<br /><br />- Vem aqui – e ela berrava na Lan House de modo que todos a ouviram. Saí em dois jornais. Olha esse: “Fashionista desmaia na porta do desfile”. E com uma foto minha! <br /><br />- Nossa, que bom! – disse o garoto em tom irônico. – Mas você não conseguiu que alguém te agenciasse, né?<br /><br />- Não! – e uma leve decepção tomou conta da garota. – Mas minha foto, com meu nome está aqui em dois jornais. <br /><br />- Pois é! Mas eu vou trabalhar de assistente de um nome da moda! Que pena! – e continuou o deboche. – Isso porque eu não tinha roupa e era cafona, né? Morra de inveja, amiga! <br /><br />Mas a garota não se deixou abater. A divulgação de seu nome na Internet já tinha feito a alegria da garota. Mas alegria fugaz, mais uma vez. Os comentários dos internautas do acontecimento foram deixando Estefany cada vez mais cabisbaixa. “Mas que garota sem noção”, “pobre quando vai em envento que tem muita celebridade passa vexame”, “mas que roupa sem noção da garota é essa?”, “que garota feia”. Era uma chuva de comentários pejorativos. E a moderação parecia não se importar em censurar a opinião dos leitores. Por fim, Estefany foi se achando a mais ridícula de todas. Uma lágrima sutil escorreu do canto do seu olho esquerdo. E foi só. Saiu dali e voltou para casa. Agora era voltar a rotina. <br /><br /> ***<br /><br />À noite, já prestes a dormir, Estefany foi pedir desculpas a Everaldo.<br /><br />- Sabe, eu realmente não agi certo com você! Fui totalmente egoísta e egocêntrica. – lamentava a garota. – E não falo isso porque você conseguiu se dar melhor lá não. Falo isso porque os dias têm sido muito confusos para mim e eu aprendi bastante. Não queria que a nossa amizade terminasse por essa atitude errada que eu tive! <br /><br />- Olha Estefany... – e Everaldo olhou bem nos olhos da garota. – Eu queria te confessar que eu também menti. Não consegui contato nenhum ali e nem tiraram uma foto minha. Falei aquilo porque estava morrendo de raiva de você. Bom, voltamos à estaca zero, né?<br /><br />E os dois se abraçaram e riram. <br /><br />- Estaca zero? – pensou Estefany. – Hmmm até pode ser, mas as inscrições para o BBB começam semana que vem! Vamos caprichar no vídeo?<br /><br />- Não vai vacilar comigo dessa vez? Olha a nossa amizade!<br /><br />- Não, não! – falou convictamente. – Aprendi muito! – e animou-se. – Se aquele garoto do Youtube que fala “adoron”, se os gays da barraca de Aruba, se a Tessália e o Serginho fizeram a fama na Internet e, principalmente, se a Geisy fez a fama com um vestidinho rosa, por que nós não podemos ser famosos? Dá próxima vez, saio com a genitália desnuda! – e riu<br /><br />- Aí você vai ser presa!<br /><br />- Que nada, beeee! A gente fala que fomos a uma praia de nudismo e deixamos a nossa roupa em um lugar e quando voltamos, elas tinham sido roubadas! <br /><br />Os dois riram como se nada tivesse acontecido.Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-78242155981987662422010-04-09T19:57:00.001-07:002010-04-09T20:00:25.149-07:00O Desastre em Niterói<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtCghPHWLEea4B4BH16SI1c9gbiDjx0qQdsOw4N3CUUxvm_-bWA3D0BPqxDgcRYPv8dCxcK42_JJ01FdSUpFXAtbhyXmUwc9D_gd2WYcjPIJTpbLhZdXI82Pmyiw4f5USDKhNIquW2iMtj/s1600/Morro+do+Bumba.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 243px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtCghPHWLEea4B4BH16SI1c9gbiDjx0qQdsOw4N3CUUxvm_-bWA3D0BPqxDgcRYPv8dCxcK42_JJ01FdSUpFXAtbhyXmUwc9D_gd2WYcjPIJTpbLhZdXI82Pmyiw4f5USDKhNIquW2iMtj/s400/Morro+do+Bumba.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5458337792248335218" /></a>
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<br /><span style="font-style:italic;">Vilões e Mocinhos do Capitalismo</span></span>
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<br />Vivemos no Capitalismo e esse modo de produção pressupõe algumas mazelas constantemente esquecidas ou negligenciadas por todos nós. Há de se ressaltar alguns preceitos inerentes ao capitalismo: relação proletariado (que não detém o capital) versus burguês (dono do capital). O sistema é assim; feito de contrastes e diferenças. Não, esse não é um discurso marxista, mas empirista de quem convive com o capitalismo no dia-a-dia e de quem reflete sobre ele. A ascensão social preconizada pelos defensores do sistema é limitada, pois se todos se tornassem donos do capital a relação proletariado x detentor do capital desmanchar-se-ia e, consequentemente, o capitalismo. Será que haveria de fato espaço para a ascensão social irrestrita de todos nesse sistema?
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<br />Considerando os pressupostos básicos, avançamos para as conseqüências: as diferenças. E, em um sistema em que o capital é o ápice de todo o funcionamento, a dispare mais evidente ocorre entre os que possuem o capital e os que não possuem. É difícil enxergar essa relação tão maniqueísta, ainda mais quando levamos em consideração as complexidades relacionais do capitalismo vigente. Não se trata mais das fases incipientes do sistema: donos de indústria e empregados da indústria. Nessa relação incipiente ficava claro a diferença e o antagonismo de duas classes sociais distintas, mas e agora?
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<br />O capitalismo se modernizou, tornou-se muito mais complexo e os papéis desempenhados por nós também. Se outrora a mobilidade social era menos percebida e os papéis bem separados, atualmente os relacionamentos são embaralhados. Em outras palavras, somos rotineiramente donos e não donos do capital. Ao trabalhar em uma empresa privada e receber dela uma remuneração mensal, somos os proletariados, mas, concomitantemente, somos os capitalistas quando chegamos a nossas casas e temos uma empregada: nós temos o capital, ela o trabalho. E existem, em uma escala hierárquica, um sem-fim dessas novas relações contemporâneas capitalistas. O chefe > o diretor geral > o vice-diretor geral > o diretor do departamento x > o vice-diretor do departamento x > os empregados instruídos > os empregados não instruídos, etc. Isso apenas para sintetizar de modo extremamente simplista os graus hierárquicos dentro de uma empresa. No cotidiano, por exemplo, nada impede que mesmo a rabeira hierárquica, no nosso exemplo os empregados não instruídos, desempenhem o papel de donos do capital. Para efeito de ilustração, se eles contratam alguns serviços, tais como diarista, empregada, taxistas, ou seja, qualquer atividade em que eles são provedores de capital, então os empregados não instruídos, nesses casos, sairão da condição de proletariados para se tornarem os burgueses.
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<br />Como a relação atual é muito mais complexa, fica cada vez mais difícil distinguir a dicotomia: proletariado x burguês. E se falarmos nesse assunto, corremos o risco de sermos tachados de antiquados, simplistas e marxistas fanáticos. Muitos irão se perguntar se de fato existe essa dicotomia. Pode uma dicotomia amalgamar-se? Sim, claro que pode, pois essa mistura é exclusivamente fruto do incremento capitalista e não gera mudança na essência das relações desse sistema: sempre alguém ou algo (no caso de uma empresa) detém o capital versus alguém ou algo que não detém o capital. O incremento capitalista, contudo, esconde e, muitas vezes, forja essa relação dicotômica. E mais ainda, ridiculariza quem trata o sistema de forma maniqueísta; vilões e mocinhos. O problema agora é que em maior ou menor grau todos são vilões e mocinhos concomitantemente.
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<br />Na prática, entretanto, nós não nos vemos dessa forma. Não adianta recebermos 510 reais por mês e termos um desempregado que presta “bicos” para nós e em troca pagamos 30, 40 reais a ele. Nós não nos veríamos donos de capital, pelo menos não o senso comum. Nós nos veríamos como pobres ajudando outros ainda mais pobres. Da mesma forma, um vice-diretor de uma grande empresa que ganha 30 mil reais mensais não se veria como proletariado diante do diretor que ganha 60 mil, mas como um assistente. Depreende-se daí que, grosso modo, o sistema capitalista contemporâneo ignora os meandros filosóficos das relações proletariado versus burguês. Na prática, quem tem muito capital será sempre o burguês, quem tem pouco capital será sempre o proletariado. Como vimos, no entanto, isso não é bem assim. Essa nova acepção esconde ainda mais os pressupostos filosóficos capitalistas. E, nesse âmbito, os vice-diretores que ganham 30 mil e os diretores que ganham 60 mil são os vilões, os assalariados que ganham 510 reais são os mocinhos. Qual o alento para os proletariados? Acender socialmente. Passar de 510 reais para 1.020, 1530 e assim sucessivamente. E isso pode acontecer? Sim, pode, mas o que o senso comum não entende é a exceção do caso, comumentemente, transformada em regra. E por que exceção? Aí, voltemos para o parágrafo dois do texto para entendermos o porquê de casos de ascensão social no capitalismo serem exceções e não regras.
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<br />Muitos devem estar se perguntando o que isso tem a ver com os desastres ocorridos recentemente em Niterói. A conexão que gostaria de fazer é justamente esta: vilões e mocinhos dentro do sistema capitalista. Os moradores do Morro do Bumba, assim como qualquer morador de área de risco ou ainda qualquer pessoa que possua menor recurso financeiro, compactuam, conscientemente ou não, com todos os pressupostos capitalistas aqui apresentados. Se não compactuassem, protestariam contra o sistema. Não participariam dele. Lutariam da mesma forma que os burgueses lutaram na Revolução Francesa. Mas existe consciência e mais existe coragem? A consciência de viverem em um sistema capitalista é constantemente forjada pela ideologia do status quo: mobilidade social, quanto mais trabalhar, mais receberei, etc. E mais, quantos deles se sentem de fato privilegiados ao verem um mendigo na rua? Quantos deles percebem que, para além de mocinhos, também são vilões do sistema (a maioria sabia que o Morro do Bumba era outrora um lixão)? Também são exploradores? Dada as devidas proporções, obviamente.
<br />
<br />Falemos agora dos “vilões tradicionais”, que no caso são o prefeito, Jorge Roberto Silveira, os secretários de planejamento, habitação, etc. Estariam eles preocupados em fazer o papel de administradores que, antes de mais nada, devem zelar por moradia decente e digna para os moradores de suas cidades? Mas esses vilões seriam de fato apenas vilões visto que os moradores do Morro do Bumba sabiam em maior ou menor grau os riscos que corriam? Até que ponto o prefeito teria coragem de remover os moradores das áreas de riscos? Mais ainda, até que ponto, em uma cidade onde as áreas nobres estão cada vez mais valorizadas, esses moradores poderiam morar? Eles detêm pouco capital e isso, todos nós sabemos, é fator determinante para inclusão ou exclusão dentro do sistema. Mas e se eles tivessem consciência disso, se eles tivessem consciência de todos os meandros filosóficos das relações capitalistas, estariam eles fadados à ignorância e à pobreza ou partiriam para uma revolução? Isso, obviamente, transcende os moradores do Bumba e as tragédias ocorridas em Niterói. O que se evidenciou nessa tragédia é, a priori, um problema do capitalismo, um problema da relação proletariado versus burguês, um problema filosófico do sistema cujas alternativas, tanto dos moradores quanto das autoridades, passam muito longe da real solução do problema.
<br />
<br />A mídia coloca cada vez mais pressão para que se achem culpados. Mas existem unissonicamente vilões e mocinhos dentro do sistema capitalista ou esses papéis são constantemente trocados? Falar de remoção para áreas que não sejam de risco, ajudas financeiras, déficit habitacional e necessidade de mais casas populares é ser extremamente superficial. É tampar a origem do problema, que é filosófica e discutir conseqüências filosóficas do sistema: desigualdade, pobres e ricos. Por que os pobres merecem sempre migalhas? Ou será que as pessoas da mídia, caso tivessem suas casas em área de risco, iriam se contentar em mudar para locais com problemas de infra-estrutura e longe dos principais centros? Será que iriam gostar de viver em uma casa de 50m²? Por isso, esse debate, em que se deixa de lado a filosofia básica em que estamos imersos é praticamente inócuo. E, infelizmente, não só a mídia, mas a maior parte das pessoas se concentra nessa esfera.
<br />
<br />E os mocinhos tradicionais, os excluídos do sistema. Por que eles se contentam com tão pouco? Por que eles não percebem a condição deles de explorados, mas também de vilões ao aceitarem fazer parte, repetindo novamente, conscientemente ou não desse sistema? A história da sociedade é marcada pelas lutas por melhorias sociais, por necessidades básicas, por díspares menores, etc e cabe cada um de nós ter consciência de que NADA, NADA está pronto. Nós criamos a nossa história social, nós criamos o dinheiro, nós criamos a pobreza. E todos nós somos vilões e mocinhos dentro desse sistema.
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<br />Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-77997744464006510682009-12-19T04:51:00.000-08:002009-12-20T01:03:55.855-08:00Da Água ao Vinho e do Vinho a Água em um piscar de olhos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimBHokEqwvN37Q3e-12LdHdo45NCnzWsKJi_mRuJHojKmkOVK4Gw5c6elaNYsBuesnxYYsmokYBPTLywlP1YUVtmSbEXR4lWVOE-R4diixxHROH9BkzWrYYdVBXx5W6MEksA0Um_kz6Qda/s1600-h/serra+leoa2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimBHokEqwvN37Q3e-12LdHdo45NCnzWsKJi_mRuJHojKmkOVK4Gw5c6elaNYsBuesnxYYsmokYBPTLywlP1YUVtmSbEXR4lWVOE-R4diixxHROH9BkzWrYYdVBXx5W6MEksA0Um_kz6Qda/s400/serra+leoa2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5416935073365278402" /></a>
<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPX5l1BQ-s-i3iM5JKhErTSvJL3XrRki8MT1I2rI4d8CySGCR9tn185-NPLYAhaOPvH0SfrttcWTMj-2IO9P4n8y0HT4gY4i5deoElQ0XbK5Vf4JDQwMG91twsPIjbo6my3WCNwcd8L5yx/s1600-h/noruega1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 266px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPX5l1BQ-s-i3iM5JKhErTSvJL3XrRki8MT1I2rI4d8CySGCR9tn185-NPLYAhaOPvH0SfrttcWTMj-2IO9P4n8y0HT4gY4i5deoElQ0XbK5Vf4JDQwMG91twsPIjbo6my3WCNwcd8L5yx/s400/noruega1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5416934958542076178" /></a>
<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgwAS1Ki-386o7dCPpzpptuW5KA1z-nV94AoCfGQq8UvwKv4O__QEVAaZjPeQ9umxqZyxIu41xQ0eOHaWNfuah5hpFqfiGt8gwU_s73vJCr8OzHhYtQYsItwNwfX4z4NV33ux-EK2QCKBT/s1600-h/Serra+Leoa.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 216px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgwAS1Ki-386o7dCPpzpptuW5KA1z-nV94AoCfGQq8UvwKv4O__QEVAaZjPeQ9umxqZyxIu41xQ0eOHaWNfuah5hpFqfiGt8gwU_s73vJCr8OzHhYtQYsItwNwfX4z4NV33ux-EK2QCKBT/s400/Serra+Leoa.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5416934861854230818" /></a>
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<br /><span style="font-weight:bold;">“Minha terra tem mendigos que pedem esmolá (sic), os mendigos que pedem esmola aqui não são os mesmos que pedem esmola lá (sic)”. </span>
<br /><span style="font-weight:bold;">
<br />Os Indicadores:</span>
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<br />Pobreza versus riqueza: um assunto que permeia a sociedade desde que o primeiro homem clamou para si o direito à propriedade privada. Nascia, dessa forma, essa dicotomia e com ela a desigualdade social.
<br />
<br />A ideia de pobreza historicamente passou por diversos processos de modificação e, até a contemporaneidade, não encontrou nenhuma definição uníssona do que seja. Esse fato não é surpreendente, pois definições sócio-filosóficas de conceitos tão enraizados na mente humana se tornam um campo de batalha entre economistas, filósofos, sociólogos, antropólogos e o senso comum. Praticamente todos têm as suas concepções formadas.
<br />
<br />O conceito da desigualdade social, no entanto, que parte de um pressuposto dicotômico de comparação entre riqueza monetária versus privação monetária, parece ser menos problemática, pelo menos a priori. Desigual é tão somente o que não é igual e, no caso, da desigualdade social basta haver um critério de comparação para falarmos se há ou não desigualdade social. Obviamente, estamos falando da definição meramente formal em que não há dúvidas: se em uma sociedade existem quatro pessoas, sendo que três ganham três unidas de valor e a outra ganha quatro, então existe diferença distributiva.
<br />
<br />Pensando em comparar diferenças, analisando-as e partindo de alguns pressupostos, que claramente podem ser refutáveis (lê-se os pressupostos e não as diferenças) houve a necessidade de criação de alguns índices. Entre os índices criados, sempre há um ponto de partida, um paradigma estabelecido: mais pessoas alfabetizadas, por exemplo, é, em grande parte dos modelos, melhor do que menos pessoas alfabetizadas. Mais importante, todavia, é atentarmos para o fato de haver disparidades locais, regionais e globais em relação a esse pressuposto, por exemplo. Apesar de acreditarmos que grande parte das pessoas de bom senso não refutaria a ideia de um país com mais alfabetizados ser menos desigual em comparação a um de menos, ainda assim, essas pessoas não poderiam negar a diferença existente. E esse díspare seria, no paradigma capitalista em que vivemos, uma causa para a desigualdade social. Tendo essas reflexões como ponto inicial, a criação de alguns índices para medir as desigualdades foram estabelecidos. Discutiremos sobre três deles: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de Pobreza Humana (IPH) e o GINI (nome dado em homenagem ao criador, o italiano Conrado Gini).
<br />
<br />O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelos economistas indiano Amartya Sen e paquistanês Mahbud ul Haq, procura comparar os países em três aspectos fundamentais: educação, renda e longevidade. No aspecto educação, o índice leva em conta várias vertentes, tais como: número de pessoas acima de 15 anos alfabetizadas, taxa bruta de freqüência escolar (nos diversos segmentos da educação). Um índice de pelo menos 96% da população adulta alfabetizada é considerado desejável. No campo da renda, há uma divisão entre o Produto Interno Bruto (PIB) pelo número de habitantes do país donde se obtém a renda per capita. Uma dada nação, por exemplo, que possua 100 pessoas e gere uma riqueza anual de um milhão de dólares, teria uma renda per capita de 10 mil dólares anualmente (renda essa parecida com as condições brasileiras). Para um país ser considerado desenvolvido, a renda per capita anual deve ser maior que 20 mil dólares. Por fim, temos o critério da longevidade, que mede a expectativa de vida média das pessoas de uma nação. Esse índice engloba indiretamente vários outros, tais como: acesso a saneamento básico e à saúde, grau de violência, etc, já que não se espera uma expectativa de vida alta para indivíduos carentes de tratamento de água e esgoto ou que vivam em lugares onde há muitos conflitos.
<br />
<br />O segundo indicador a ser analisado é o Índice de Pobreza Humana (IPH), um critério praticamente atrelado ao IDH, visto que analisa justamente as privações expostas acima: educação, renda e longevidade para estabelecer o percentual de pobres em um país. Dentre alguns fatores investigados pelo IPH, temos os seguintes: número de mortes de recém nascidos (englobando também a mortalidade infantil), quantidade de alunos em idade escolar privados de educação básica, quantidade de crianças subnutridas e percentual da população do país que vive com menos de um ou dois dólares por dia. Cabe frisar, contudo, que o parâmetro de um ou dois dólares é variável de acordo com as condições dos países analisados. Nos desenvolvidos, esse índice salta para 11 dólares por dia, ao passo que nos países da África Subsaariana é de um dólar diário. Para a América Latina, o estudo recomenda um corte entre dois a quatro dólares. O interessante no IPH é o fato de ele equilibrar algumas possíveis distorções geradas pelo IDH e que serão comentadas mais tarde.
<br />
<br />Outro parâmetro interessante e o único que lida diretamente com a desigualdade é o GINI. O índice mede o grau de concentração de renda de uma sociedade, demonstrando de que forma a riqueza do país é distribuída. Dessa maneira, a variação do indicador é de um (para o grau de concentração máximo em que apenas uma pessoa concentraria toda a riqueza existente no país) até zero (para nenhum grau de concentração em que a distribuição monetária seria rigorosamente repartida igualmente entre todos os membros da sociedade). Os dois extremos parecem um pouco utópicos. Os esforços são a fim de um GINI cada vez mais próximo de zero. Índices acima de 0,5 são considerados altos, entre 0,35 a 0,5 medianos e abaixo de 0,35 desejáveis.
<br />
<br />A necessidade de se fazer uma análise conjunta dos três indicadores ocorre porque: primeiramente um IDH alto pode forjar uma desigualdade, a renda per capita de um país pode ser alta, por exemplo porque existem poucos que ganham demais e elevam esse índice. Isso acontece, por exemplo, em alguns países do Oriente Médio cuja riqueza do petróleo gera distorções homéricas entre as rendas dos mais ricos e a dos mais pobres. Dessa forma, o GINI serviria para percebermos que a renda per capita alta nesses países é em grande parte, irreal, pois a população como um todo não tem acesso a toda essa riqueza. Ademais, países com uma educação fundamental de qualidade e compulsória e relativamente estáveis podem ter IDH altos puxados por grande número de alfabetizados e expectativa de vida satisfatória (uma vez que o país se encontra politicamente estabilizado). Isso não descarta, contudo, que uma parcela significativa da população seja considerada pobre, o que ocorre, por exemplo, com Cuba. O país tem ótimos indicadores de educação (quase 100% da população é alfabetizada) e uma expectativa de vida alta (78,3 anos). A renda per capita, todavia, é de apenas 4.500 dólares, ou seja, menos de um terço do necessário para o país ser considerado desenvolvido. Ainda assim, Cuba ostenta um bom IDH (pois dois dos três fatores medidos pelo índice são considerados altos), mas isso não impede que o IPH cubano seja elevado. Por isso, mais uma vez existe a necessidade de uma análise em conjunto dos três indicadores.
<br /><span style="font-weight:bold;">
<br />As Desigualdades entre países</span>
<br />
<br />Devidamente explicados todos os índices, partiremos agora para as comparações entre as desigualdades expostas pelo IDH, IPH e GINI entre Noruega e Serra Leoa. Por que a escolha desses países? Primeiro porque a Noruega vem ocupando há muito tempo os primeiros lugares no IDH, enquanto Serra Leoa os últimos. Ademais, as diferenças não param por aí: a Noruega é uma das nações com menor IPH e GINI, em oposição, Serra Leoa apresenta um dos maiores níveis desses dois indicadores.
<br />
<br />Concernente ao IDH, os últimos números divulgados em outubro de 2009 (com dados fornecidos pelos países de 2007), a Noruega ocupava o primeiro lugar no índice com um IDH de 0,971 (quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido). Serra Leoa estava na antepenúltima posição (o 180ª país da lista) com um número que não passava de 0,365. Para melhor compreendermos essas diferenças, vamos comparar os três indicadores básicos referentes ao IDH de cada país. Referente à taxa de alfabetização, a Noruega ostenta um índice de 99% de alfabetos, em Serra Leoa, apenas 34,8% das pessoas acima de 15 anos são alfabetizadas. A expectativa no primeiro é de 80,2 anos, no segundo não passa dos 42,6 anos. Praticamente a metade. Finalmente, em relação ao último indicador, temos o seguinte abismo: renda per capita norueguesa 53.152 dólares, renda per capita leonesa 692 dólares. Parece assustador, pois é uma diferença de 76 vezes a mais para a Noruega. Em quanto tempo, ainda que o país escandinavo parasse de crescer totalmente a nação africana chegaria a essa renda per capita?
<br />
<br />Em relação ao IPH, a Noruega não está no topo (quem ocupa essa posição é a Suécia com índice próximo a 6%),mas está próximo dele. O país não tem mais que 10% de pessoas consideradas pobres e isso adotando os critérios mais rígidos que seriam de pessoas que vivam com até 14 dólares por dia. Para se ter uma noção, se esses critérios fossem adotados no Brasil, famílias de quatro pessoas, com renda menor de 3.000 reais, seriam consideradas pobres. Como já havíamos dito, os critérios do IPH são relativizados de acordo com os países, e no caso de Serra Leoa dos rigorosos 14 dólares, passariam a ser considerados pobres os que vivessem com menos de um dólar diariamente. Ainda assim, o país apresenta um índice pouco animador: mais de 50%, ou seja, mais da metade da população do país vive com menos de um dólar e fazem parte, portanto, do grupo dos miseráveis.
<br />
<br />Ao que tange o GINI, novamente o abismo é colossal. Parece até repetição dos parágrafos acima, mas é interessante compararmos todos os dados para que os leitores percebam o quão homérico é o contraste. O país nórdico apresenta um dos menores GINIS (apesar de não ocupar a primeira posição é, novamente um dos primeiros), com um índice de apenas 0,258 (considerado excelente). Já a nação africana possui 0,629 nesse indicador. Como já falamos, mas cabe aqui relembrar, para uma maior compreensão, números acima de 0,500 são considerados muito altos (países que apresentam grande concentração de renda), entre 0,350 e 0,500 considerados médios (países que distribuem a renda de modo razoavelmente satisfatório) e finalmente um índice abaixo de 0,350 é considerado o desejável (nações com pouco grau de concentração de renda). Nesse quesito, o país mais igual do mundo é a Dinamarca com um GINI de apenas 0,217.
<br />
<br /><span style="font-weight:bold;">
<br />E as desigualdades brasileiras?</span>
<br />
<br />Até agora, apesar de termos mostrado tantas desigualdades, falamos de lugares longínquos para a maior parte da população brasileira, muito distante da realidade em que vivemos. Não é de se espantar, todavia, que o Brasil, um país conhecido no mundo por uma das piore distribuições de renda, também apresente diferenças abissais entre regiões e até entre bairros do mesmo município. Antes de fazermos comparações e, provavelmente, deixar os mais incautos chocados com tamanhos díspares, precisamos salientar algumas melhorias pelas quais o país passou.
<br />
<br />Desde 1994 com a implantação do plano real, o Brasil vem passando por uma estabilidade econômica ainda não vista no país. Com a criação da nova moeda, os índices de inflação altíssimos tornaram-se problemas do passado e hoje o país ostenta números de nações desenvolvidas. Esse controle inflacionário permitiu um ganho real do salário dos trabalhadores. Paralelamente a isso, programas criados no final da década de 90 e expandidos nos anos 2000, dentre eles o Bolsa Família, possibilitaram a melhoria de vida de pessoas que outrora se enquadram abaixo da linha da pobreza. Para se ter uma noção, o salário mínimo em meados de 1994 era de apenas 64 reais. Já o custo de vida necessário para prover uma família de quatro pessoas (de acordo com os preceitos da Constituição do que seja o salário mínimo), naquela época, segundo o Dieese era cerca de 650 reais, ou seja, uma diferença de mais de nove vezes. Em 2009, 15 anos depois, o salário mínimo é de 465 reais e, embora ainda insuficiente para suprir sequer as necessidades de uma família de quatro pessoas em 1994, representa apenas um pouco mais quatro vezes e meia menos do mínimo necessário (atualmente de 2108 reais, de acordo com o Dieese). Além disso, o índice GINI brasileiro, embora muito alto, vem apresentado queda desde 2003. Em 2009, pela primeira vez desde a década de 60, o indicador brasileiro esteve abaixo dos 0,500.
<br />
<br />Os maiores problemas, contudo, continuam sendo o marasmo e a inércia social. Apesar das melhorias expostas acima, quando comparado a outros países que também se desenvolveram, as notícias já não são tão boas. Em 2000, com IDH de 0,785 o Brasil ocupava a 63ª colocação em um ranking de mais de 170 países. No último relatório divulgado em outubro desse ano o Brasil obteve um índice de 0,813. Evolui, mas evolui pouco, tanto é que se outrora ocupava a 63ª posição, ocupamos agora a 75ª.
<br />
<br />Mensurar o Brasil como um todo é como agrupar uma série de países de realidades socioeconômicas completamente díspares. Felizmente não há nada no Brasil que chegue perto de Serra Leoa, mas há muito no Brasil que chega e ultrapassa a Noruega. E o pior: são pouquíssimos lugares, em detrimento de muitos que, se não chegam a ser comparáveis com o país africano, perdem e muito para a média dos países latinos.
<br />
<br />Em termos regionais, temos Santa Catarina e Alagoas ocupando os extremos opostos. Não consideramos aqui o Distrito Federal que, caso fosse considerado, ocuparia o topo do ranking. O estado sulista apresentava um IDH de 0,840 em 2005 (último dado disponível) ante a um indicador alagoano de apenas 0,677. A renda per capita em Santa Catarina era de 17.500 reais anualmente, a expectativa de vida de pouco mais de 75 anos e um índice de analfabetismo que não chegava a 5%.Já Alagoas possuía uma renda per capita anual de apenas 5.164 reais, expectativa de vida de apenas 66 anos e 26,4% de analfabetos. Parece uma diferença gigante para o mesmo país, mas tem pior.
<br />
<br />Como dentro de uma mesma cidade pessoas podem viver de forma tão distinta? É uma pergunta curiosidade e real. Em 2000, a Gávea desfrutava de um IDH norueguês. Aliás, os últimos dados disponíveis, os daquele ano, colocavam a Gávea com índice de 0,970. (Esse valor só foi alcançado pela Noruega em 2009). Disso, concluímos que se a Gávea fosse um país, provavelmente, teria, hoje, um IDH superior a 0,980 e seria de longe o mais desenvolvido do planeta. Por outro lado, o Complexo do Alemão, no mesmo ano, apresentava um índice de apenas 0,711 e era o bairro de pior colocação na cidade do Rio de Janeiro. O Complexo do Alemão para quem não sabe é um conjunto de favelas existentes na Zona Norte da cidade. Agora, se voltarmos aos dados regionais e compararmos o IDH de Alagoas, em 2005, com o do Complexo do Alemão em 2000, teríamos uma grande surpresa: o pior bairro da cidade do Rio de Janeiro detinha cinco anos antes, um IDH superior ao estado de Alagoas.
<br />
<br />Não estamos mais na Noruega, não estamos mais em Serra Leoa. Estamos no Brasil e falamos de situações desiguais em territórios muitas vezes próximos demais. Tivemos a exposição de situações de imenso contraste nessa matéria, mas ainda ficou faltando muito: entender o porquê disso, como isso pode ser mudado, o que alguns estudiosos pensam sobre isso e como é o dia-a-dia dessas pessoas, sejam elas esbanjando um alto IDH ou implorando por um mais alto. Obviamente, nós do Blog Cultura e Diversidade não iríamos deixar o leitor sem resposta a esses assuntos tão complexos e por isso, ao longo das próximas semanas (e estamos trabalhando com afinco para isso), publicaremos mais uma série de reportagens com o mesmo foco, mas dessa vez não mas mostrando as desigualdades já explicitadas aqui e sim tentando entendê-las e, além disso, refletir sobre elas.
<br />
<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKT7Z02yfweZAiYxw2I7HRySw2WyXS_cnV0WLlJfoGha0qafEpNolgXuNUfkdCI__jVwXxZXytAqloJwVh3IXNTEcfPRW_LHHgcpU6t1Igl8fs90WYJNUJwnOSH1AOuZR7BCBBQhYCxjYR/s1600-h/complexo+do+alemao.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 292px; height: 280px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKT7Z02yfweZAiYxw2I7HRySw2WyXS_cnV0WLlJfoGha0qafEpNolgXuNUfkdCI__jVwXxZXytAqloJwVh3IXNTEcfPRW_LHHgcpU6t1Igl8fs90WYJNUJwnOSH1AOuZR7BCBBQhYCxjYR/s400/complexo+do+alemao.JPG" border="0"
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<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPD8mHJFcTOkcC9TbeKQN_9XraOY0wJ50x0oNEoLSyvyplth5mvVTjQYXGpq4FSTSmdD-cSOIkRPZvWaM3Ot0Bw1HVn3VEBUtDmUj0Atg75VIsNjncUmC4fyMq2KCK04C-DI-uG_uz-JeG/s1600-h/hipodromo+da+gavea.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 316px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPD8mHJFcTOkcC9TbeKQN_9XraOY0wJ50x0oNEoLSyvyplth5mvVTjQYXGpq4FSTSmdD-cSOIkRPZvWaM3Ot0Bw1HVn3VEBUtDmUj0Atg75VIsNjncUmC4fyMq2KCK04C-DI-uG_uz-JeG/s400/hipodromo+da+gavea.jpg" border="0"
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<br />Bernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409636450549206736.post-26950956973933974402009-12-18T07:14:00.001-08:002009-12-18T07:15:54.765-08:00EditorialA Equipe:<br /><br /><br />Queridos amigos que acompanham o Blog Cultura e Diversidade, queremos informar-lhes o porquê da criação desse espaço e quais serão os principais assuntos aqui tratados. <br /><br />Primeiramente, nós do Blog Cultura e Diversidade temos uma imensa alegria em convidar a todos para lerem e refletirem sobre as questões que foram e serão expostas nesse espaço. <br /><br />A função da criação do Blog partiu da necessidade de compilação de escritos meus sobre diversos assuntos relacionados à nossa sociedade: Moda, Cultura, Questões Sociais, Ambientais, Políticas. Vocês poderão notar que todos os artigos e matérias divulgados pelo Blog terão um cunho intrinsecamente social e reflexivo. Pretendemos e estamos muito desejosos em poder dialogar com nossos leitores todas as questões aqui apresentadas. Faremos reflexões, almejamos modificações (sejam elas nas nossas vidas sociais, políticas, enfim, nas nossas Culturas e Diversidades). <br /><br />Estaremos atualizando com a maior freqüência possível o nosso Blog para que os leitores tenham a oportunidade de sempre encontrarem assuntos novos e instigantes para debatermos. Nossa equipe já está se esmerando para levar a todos vocês o nosso próximo artigo, que tratará sobre contrastes sociais globais, regionais e locais, fazendo comparações e reflexões entre a riqueza e a pobreza, entre o bem estar social x pauperização social, <br /><br />Nossa próxima atualização está prevista para o dia 22/12, o que nada impede que a matéria seja publicada antes.<br /><br />Contamos com o apóio de todos vocês para fazer desse espaço um local aberto para reflexões, discussões e amadurecimento de idéias. <br /><br />Em Agradecimento,<br /><br /> A Equipe do Blog Cultura e DiversidadeBernardo Seabrahttp://www.blogger.com/profile/10500957090334274113noreply@blogger.com0