sábado, 19 de dezembro de 2009

Da Água ao Vinho e do Vinho a Água em um piscar de olhos







“Minha terra tem mendigos que pedem esmolá (sic), os mendigos que pedem esmola aqui não são os mesmos que pedem esmola lá (sic)”.

Os Indicadores:


Pobreza versus riqueza: um assunto que permeia a sociedade desde que o primeiro homem clamou para si o direito à propriedade privada. Nascia, dessa forma, essa dicotomia e com ela a desigualdade social.

A ideia de pobreza historicamente passou por diversos processos de modificação e, até a contemporaneidade, não encontrou nenhuma definição uníssona do que seja. Esse fato não é surpreendente, pois definições sócio-filosóficas de conceitos tão enraizados na mente humana se tornam um campo de batalha entre economistas, filósofos, sociólogos, antropólogos e o senso comum. Praticamente todos têm as suas concepções formadas.

O conceito da desigualdade social, no entanto, que parte de um pressuposto dicotômico de comparação entre riqueza monetária versus privação monetária, parece ser menos problemática, pelo menos a priori. Desigual é tão somente o que não é igual e, no caso, da desigualdade social basta haver um critério de comparação para falarmos se há ou não desigualdade social. Obviamente, estamos falando da definição meramente formal em que não há dúvidas: se em uma sociedade existem quatro pessoas, sendo que três ganham três unidas de valor e a outra ganha quatro, então existe diferença distributiva.

Pensando em comparar diferenças, analisando-as e partindo de alguns pressupostos, que claramente podem ser refutáveis (lê-se os pressupostos e não as diferenças) houve a necessidade de criação de alguns índices. Entre os índices criados, sempre há um ponto de partida, um paradigma estabelecido: mais pessoas alfabetizadas, por exemplo, é, em grande parte dos modelos, melhor do que menos pessoas alfabetizadas. Mais importante, todavia, é atentarmos para o fato de haver disparidades locais, regionais e globais em relação a esse pressuposto, por exemplo. Apesar de acreditarmos que grande parte das pessoas de bom senso não refutaria a ideia de um país com mais alfabetizados ser menos desigual em comparação a um de menos, ainda assim, essas pessoas não poderiam negar a diferença existente. E esse díspare seria, no paradigma capitalista em que vivemos, uma causa para a desigualdade social. Tendo essas reflexões como ponto inicial, a criação de alguns índices para medir as desigualdades foram estabelecidos. Discutiremos sobre três deles: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de Pobreza Humana (IPH) e o GINI (nome dado em homenagem ao criador, o italiano Conrado Gini).

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelos economistas indiano Amartya Sen e paquistanês Mahbud ul Haq, procura comparar os países em três aspectos fundamentais: educação, renda e longevidade. No aspecto educação, o índice leva em conta várias vertentes, tais como: número de pessoas acima de 15 anos alfabetizadas, taxa bruta de freqüência escolar (nos diversos segmentos da educação). Um índice de pelo menos 96% da população adulta alfabetizada é considerado desejável. No campo da renda, há uma divisão entre o Produto Interno Bruto (PIB) pelo número de habitantes do país donde se obtém a renda per capita. Uma dada nação, por exemplo, que possua 100 pessoas e gere uma riqueza anual de um milhão de dólares, teria uma renda per capita de 10 mil dólares anualmente (renda essa parecida com as condições brasileiras). Para um país ser considerado desenvolvido, a renda per capita anual deve ser maior que 20 mil dólares. Por fim, temos o critério da longevidade, que mede a expectativa de vida média das pessoas de uma nação. Esse índice engloba indiretamente vários outros, tais como: acesso a saneamento básico e à saúde, grau de violência, etc, já que não se espera uma expectativa de vida alta para indivíduos carentes de tratamento de água e esgoto ou que vivam em lugares onde há muitos conflitos.

O segundo indicador a ser analisado é o Índice de Pobreza Humana (IPH), um critério praticamente atrelado ao IDH, visto que analisa justamente as privações expostas acima: educação, renda e longevidade para estabelecer o percentual de pobres em um país. Dentre alguns fatores investigados pelo IPH, temos os seguintes: número de mortes de recém nascidos (englobando também a mortalidade infantil), quantidade de alunos em idade escolar privados de educação básica, quantidade de crianças subnutridas e percentual da população do país que vive com menos de um ou dois dólares por dia. Cabe frisar, contudo, que o parâmetro de um ou dois dólares é variável de acordo com as condições dos países analisados. Nos desenvolvidos, esse índice salta para 11 dólares por dia, ao passo que nos países da África Subsaariana é de um dólar diário. Para a América Latina, o estudo recomenda um corte entre dois a quatro dólares. O interessante no IPH é o fato de ele equilibrar algumas possíveis distorções geradas pelo IDH e que serão comentadas mais tarde.

Outro parâmetro interessante e o único que lida diretamente com a desigualdade é o GINI. O índice mede o grau de concentração de renda de uma sociedade, demonstrando de que forma a riqueza do país é distribuída. Dessa maneira, a variação do indicador é de um (para o grau de concentração máximo em que apenas uma pessoa concentraria toda a riqueza existente no país) até zero (para nenhum grau de concentração em que a distribuição monetária seria rigorosamente repartida igualmente entre todos os membros da sociedade). Os dois extremos parecem um pouco utópicos. Os esforços são a fim de um GINI cada vez mais próximo de zero. Índices acima de 0,5 são considerados altos, entre 0,35 a 0,5 medianos e abaixo de 0,35 desejáveis.

A necessidade de se fazer uma análise conjunta dos três indicadores ocorre porque: primeiramente um IDH alto pode forjar uma desigualdade, a renda per capita de um país pode ser alta, por exemplo porque existem poucos que ganham demais e elevam esse índice. Isso acontece, por exemplo, em alguns países do Oriente Médio cuja riqueza do petróleo gera distorções homéricas entre as rendas dos mais ricos e a dos mais pobres. Dessa forma, o GINI serviria para percebermos que a renda per capita alta nesses países é em grande parte, irreal, pois a população como um todo não tem acesso a toda essa riqueza. Ademais, países com uma educação fundamental de qualidade e compulsória e relativamente estáveis podem ter IDH altos puxados por grande número de alfabetizados e expectativa de vida satisfatória (uma vez que o país se encontra politicamente estabilizado). Isso não descarta, contudo, que uma parcela significativa da população seja considerada pobre, o que ocorre, por exemplo, com Cuba. O país tem ótimos indicadores de educação (quase 100% da população é alfabetizada) e uma expectativa de vida alta (78,3 anos). A renda per capita, todavia, é de apenas 4.500 dólares, ou seja, menos de um terço do necessário para o país ser considerado desenvolvido. Ainda assim, Cuba ostenta um bom IDH (pois dois dos três fatores medidos pelo índice são considerados altos), mas isso não impede que o IPH cubano seja elevado. Por isso, mais uma vez existe a necessidade de uma análise em conjunto dos três indicadores.

As Desigualdades entre países


Devidamente explicados todos os índices, partiremos agora para as comparações entre as desigualdades expostas pelo IDH, IPH e GINI entre Noruega e Serra Leoa. Por que a escolha desses países? Primeiro porque a Noruega vem ocupando há muito tempo os primeiros lugares no IDH, enquanto Serra Leoa os últimos. Ademais, as diferenças não param por aí: a Noruega é uma das nações com menor IPH e GINI, em oposição, Serra Leoa apresenta um dos maiores níveis desses dois indicadores.

Concernente ao IDH, os últimos números divulgados em outubro de 2009 (com dados fornecidos pelos países de 2007), a Noruega ocupava o primeiro lugar no índice com um IDH de 0,971 (quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido). Serra Leoa estava na antepenúltima posição (o 180ª país da lista) com um número que não passava de 0,365. Para melhor compreendermos essas diferenças, vamos comparar os três indicadores básicos referentes ao IDH de cada país. Referente à taxa de alfabetização, a Noruega ostenta um índice de 99% de alfabetos, em Serra Leoa, apenas 34,8% das pessoas acima de 15 anos são alfabetizadas. A expectativa no primeiro é de 80,2 anos, no segundo não passa dos 42,6 anos. Praticamente a metade. Finalmente, em relação ao último indicador, temos o seguinte abismo: renda per capita norueguesa 53.152 dólares, renda per capita leonesa 692 dólares. Parece assustador, pois é uma diferença de 76 vezes a mais para a Noruega. Em quanto tempo, ainda que o país escandinavo parasse de crescer totalmente a nação africana chegaria a essa renda per capita?

Em relação ao IPH, a Noruega não está no topo (quem ocupa essa posição é a Suécia com índice próximo a 6%),mas está próximo dele. O país não tem mais que 10% de pessoas consideradas pobres e isso adotando os critérios mais rígidos que seriam de pessoas que vivam com até 14 dólares por dia. Para se ter uma noção, se esses critérios fossem adotados no Brasil, famílias de quatro pessoas, com renda menor de 3.000 reais, seriam consideradas pobres. Como já havíamos dito, os critérios do IPH são relativizados de acordo com os países, e no caso de Serra Leoa dos rigorosos 14 dólares, passariam a ser considerados pobres os que vivessem com menos de um dólar diariamente. Ainda assim, o país apresenta um índice pouco animador: mais de 50%, ou seja, mais da metade da população do país vive com menos de um dólar e fazem parte, portanto, do grupo dos miseráveis.

Ao que tange o GINI, novamente o abismo é colossal. Parece até repetição dos parágrafos acima, mas é interessante compararmos todos os dados para que os leitores percebam o quão homérico é o contraste. O país nórdico apresenta um dos menores GINIS (apesar de não ocupar a primeira posição é, novamente um dos primeiros), com um índice de apenas 0,258 (considerado excelente). Já a nação africana possui 0,629 nesse indicador. Como já falamos, mas cabe aqui relembrar, para uma maior compreensão, números acima de 0,500 são considerados muito altos (países que apresentam grande concentração de renda), entre 0,350 e 0,500 considerados médios (países que distribuem a renda de modo razoavelmente satisfatório) e finalmente um índice abaixo de 0,350 é considerado o desejável (nações com pouco grau de concentração de renda). Nesse quesito, o país mais igual do mundo é a Dinamarca com um GINI de apenas 0,217.


E as desigualdades brasileiras?


Até agora, apesar de termos mostrado tantas desigualdades, falamos de lugares longínquos para a maior parte da população brasileira, muito distante da realidade em que vivemos. Não é de se espantar, todavia, que o Brasil, um país conhecido no mundo por uma das piore distribuições de renda, também apresente diferenças abissais entre regiões e até entre bairros do mesmo município. Antes de fazermos comparações e, provavelmente, deixar os mais incautos chocados com tamanhos díspares, precisamos salientar algumas melhorias pelas quais o país passou.

Desde 1994 com a implantação do plano real, o Brasil vem passando por uma estabilidade econômica ainda não vista no país. Com a criação da nova moeda, os índices de inflação altíssimos tornaram-se problemas do passado e hoje o país ostenta números de nações desenvolvidas. Esse controle inflacionário permitiu um ganho real do salário dos trabalhadores. Paralelamente a isso, programas criados no final da década de 90 e expandidos nos anos 2000, dentre eles o Bolsa Família, possibilitaram a melhoria de vida de pessoas que outrora se enquadram abaixo da linha da pobreza. Para se ter uma noção, o salário mínimo em meados de 1994 era de apenas 64 reais. Já o custo de vida necessário para prover uma família de quatro pessoas (de acordo com os preceitos da Constituição do que seja o salário mínimo), naquela época, segundo o Dieese era cerca de 650 reais, ou seja, uma diferença de mais de nove vezes. Em 2009, 15 anos depois, o salário mínimo é de 465 reais e, embora ainda insuficiente para suprir sequer as necessidades de uma família de quatro pessoas em 1994, representa apenas um pouco mais quatro vezes e meia menos do mínimo necessário (atualmente de 2108 reais, de acordo com o Dieese). Além disso, o índice GINI brasileiro, embora muito alto, vem apresentado queda desde 2003. Em 2009, pela primeira vez desde a década de 60, o indicador brasileiro esteve abaixo dos 0,500.

Os maiores problemas, contudo, continuam sendo o marasmo e a inércia social. Apesar das melhorias expostas acima, quando comparado a outros países que também se desenvolveram, as notícias já não são tão boas. Em 2000, com IDH de 0,785 o Brasil ocupava a 63ª colocação em um ranking de mais de 170 países. No último relatório divulgado em outubro desse ano o Brasil obteve um índice de 0,813. Evolui, mas evolui pouco, tanto é que se outrora ocupava a 63ª posição, ocupamos agora a 75ª.

Mensurar o Brasil como um todo é como agrupar uma série de países de realidades socioeconômicas completamente díspares. Felizmente não há nada no Brasil que chegue perto de Serra Leoa, mas há muito no Brasil que chega e ultrapassa a Noruega. E o pior: são pouquíssimos lugares, em detrimento de muitos que, se não chegam a ser comparáveis com o país africano, perdem e muito para a média dos países latinos.

Em termos regionais, temos Santa Catarina e Alagoas ocupando os extremos opostos. Não consideramos aqui o Distrito Federal que, caso fosse considerado, ocuparia o topo do ranking. O estado sulista apresentava um IDH de 0,840 em 2005 (último dado disponível) ante a um indicador alagoano de apenas 0,677. A renda per capita em Santa Catarina era de 17.500 reais anualmente, a expectativa de vida de pouco mais de 75 anos e um índice de analfabetismo que não chegava a 5%.Já Alagoas possuía uma renda per capita anual de apenas 5.164 reais, expectativa de vida de apenas 66 anos e 26,4% de analfabetos. Parece uma diferença gigante para o mesmo país, mas tem pior.

Como dentro de uma mesma cidade pessoas podem viver de forma tão distinta? É uma pergunta curiosidade e real. Em 2000, a Gávea desfrutava de um IDH norueguês. Aliás, os últimos dados disponíveis, os daquele ano, colocavam a Gávea com índice de 0,970. (Esse valor só foi alcançado pela Noruega em 2009). Disso, concluímos que se a Gávea fosse um país, provavelmente, teria, hoje, um IDH superior a 0,980 e seria de longe o mais desenvolvido do planeta. Por outro lado, o Complexo do Alemão, no mesmo ano, apresentava um índice de apenas 0,711 e era o bairro de pior colocação na cidade do Rio de Janeiro. O Complexo do Alemão para quem não sabe é um conjunto de favelas existentes na Zona Norte da cidade. Agora, se voltarmos aos dados regionais e compararmos o IDH de Alagoas, em 2005, com o do Complexo do Alemão em 2000, teríamos uma grande surpresa: o pior bairro da cidade do Rio de Janeiro detinha cinco anos antes, um IDH superior ao estado de Alagoas.

Não estamos mais na Noruega, não estamos mais em Serra Leoa. Estamos no Brasil e falamos de situações desiguais em territórios muitas vezes próximos demais. Tivemos a exposição de situações de imenso contraste nessa matéria, mas ainda ficou faltando muito: entender o porquê disso, como isso pode ser mudado, o que alguns estudiosos pensam sobre isso e como é o dia-a-dia dessas pessoas, sejam elas esbanjando um alto IDH ou implorando por um mais alto. Obviamente, nós do Blog Cultura e Diversidade não iríamos deixar o leitor sem resposta a esses assuntos tão complexos e por isso, ao longo das próximas semanas (e estamos trabalhando com afinco para isso), publicaremos mais uma série de reportagens com o mesmo foco, mas dessa vez não mas mostrando as desigualdades já explicitadas aqui e sim tentando entendê-las e, além disso, refletir sobre elas.




sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Editorial

A Equipe:


Queridos amigos que acompanham o Blog Cultura e Diversidade, queremos informar-lhes o porquê da criação desse espaço e quais serão os principais assuntos aqui tratados.

Primeiramente, nós do Blog Cultura e Diversidade temos uma imensa alegria em convidar a todos para lerem e refletirem sobre as questões que foram e serão expostas nesse espaço.

A função da criação do Blog partiu da necessidade de compilação de escritos meus sobre diversos assuntos relacionados à nossa sociedade: Moda, Cultura, Questões Sociais, Ambientais, Políticas. Vocês poderão notar que todos os artigos e matérias divulgados pelo Blog terão um cunho intrinsecamente social e reflexivo. Pretendemos e estamos muito desejosos em poder dialogar com nossos leitores todas as questões aqui apresentadas. Faremos reflexões, almejamos modificações (sejam elas nas nossas vidas sociais, políticas, enfim, nas nossas Culturas e Diversidades).

Estaremos atualizando com a maior freqüência possível o nosso Blog para que os leitores tenham a oportunidade de sempre encontrarem assuntos novos e instigantes para debatermos. Nossa equipe já está se esmerando para levar a todos vocês o nosso próximo artigo, que tratará sobre contrastes sociais globais, regionais e locais, fazendo comparações e reflexões entre a riqueza e a pobreza, entre o bem estar social x pauperização social,

Nossa próxima atualização está prevista para o dia 22/12, o que nada impede que a matéria seja publicada antes.

Contamos com o apóio de todos vocês para fazer desse espaço um local aberto para reflexões, discussões e amadurecimento de idéias.

Em Agradecimento,

A Equipe do Blog Cultura e Diversidade

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Moda: Fútil ou Essencial?









Não é de hoje que a Sociedade Contemporânea costuma ser um pouco hesitante quando falamos em moda. Muitos argumentam que a roupa não passa de uma mera capa convencional que tem como único objetivo cobrir a genitália das pessoas. Para os indivíduos pertencentes a esse grupo (pessoas das mais diferentes classes sociais e níveis de instrução) a Moda seria uma questão dispensável, comumente considerada fútil e fugaz. Em oposição ao grupo supracitado, temos os amantes da Moda em diferentes níveis e que utilizam argumentos variados para justificar a relevância do assunto. Quais são os pontos comuns a esses dois grupos e até que ponto eles estão certos? Seria a Moda importante ou dispensável à Sociedade Contemporânea?

Para analisarmos os questionamentos levantados acima, devemos primeiramente entender como os indivíduos lidam com o assunto, sejam eles amantes ou não da Moda. O primeiro plano que pretendemos expor é talvez o de maior ligação entre pessoas do cotidiano e a Moda: cobrir-se. Nesse âmbito, a questão é tratada como fulcral tão somente para atender aos valores éticos da contemporaneidade: não mostrar as genitálias em público. Ainda há a questão de adequação da roupa aos costumes culturais da região e às diferentes ocasiões, ou seja, não se espera uma mulher de biquíni indo a uma faculdade ou um homem de vestido saindo pelas ruas de uma cidade. Em suma, nesse nível a roupa tem o papel ético de servir como um tecido que cubra as partes consideradas impróprias para exposição pública e adequar-se moralmente a cada tipo de ocasião de acordo com a cultura a qual a pessoa está imersa. Para os indivíduos que pensam em moda dessa maneira chega a ser um fardo comprar roupas. Falar em cortes, modelos e marcas então é um assunto demasiadamente entediante para eles.

Em um segundo nível, encontramos pessoas que, além de se preocuparem com os fatores acima expostos, vão um pouco além: não basta a roupa servir como pano para cobrir genitálias e adequar-se às normais culturais, a vestimenta deve ser esteticamente bonita, apresentar um bom corte e valorizar o corpo. Nesse nível, encontramos tanto amantes da moda, quanto pessoas que apenas querem ficar bonitas utilizando-se de acessórios e ornamentos que possam proporcioná-las uma melhoria estética. Existe, portanto nesse grupo uma gama variada de membros: os tradicionais, ou seja, os que seguem as roupas clássicas e não se importam muito com tendências, novos estilos e desfiles de moda. Para esses, o importante é comprar somente quando a peça que eles usam já não é mais bonita. Então vão às compras renovando o guarda-roupa com peças similares, porém novas. Os “osmoseiros” (os que seguem a tendência por osmose) que vêem roupas novas e estilosas sendo usadas por pessoas comuns nas ruas, em novelas, no ambiente de trabalho, etc, e resolvem aderir ao novo estilo, sem uma reflexão prévia. Esse grupo raramente acompanha os desfiles de Moda, mas segue as tendências indiretamente através de outros membros da sociedade considerados ícones. Finalmente, o terceiro grupo (ainda pertencente ao segundo nível) são os chamados fashionistas, que acompanham rigorosamente os desfiles, estão por dentro do que acontece no mundo da Moda e procuram seguir as tendências e ditá-las. Ponto comum para todos serem encaixados no mesmo grupo? Apresentarem uma preocupação estética com a roupa que perpassa o primeiro nível exposto no parágrafo anterior.

O terceiro e último nível são os indivíduos que, além de terem todas as preocupações apresentadas acima pelos dois níveis supracitados, vão um pouco além: utilizam a moda como um instrumento para passar suas idéias, suas visões de mundo e suas contestações ou aprovações em relação às tradições culturais. Para esse grupo não basta se vestir e se vestir de forma bonita, é preciso que a roupa passe um conceito, expresse uma identidade clara. Sendo assim, se uma calça xadrez “está na moda”, provavelmente o segundo grupo (excluindo-se os tradicionalistas) iria usá-la sem saber exatamente o porquê de o xadrez estar na moda, o que significa uma peça xadrez, o que essa roupa passa em termos conceituais. Já os membros do terceiro nível não; iriam questionar o porquê do xadrez, qual a relevância do xadrez para eles e de que modo essa tendência pode ou não se coadunar à visão de mundo desses indivíduos. Se essa roupa não estiver em consonância com os valores culturais e visões de mundo que essa pessoa pretende passar, ela não vai usar essa peça, independentemente, de estar ou não na moda. Nesse âmbito, muito mais que seguir tendências, a Moda é vista como ideológica: subversiva ou não aos valores de uma sociedade, em consonância ou não com o status quo de uma cultura.

Tendo separado a relação que as pessoas têm com a Moda em três níveis, seria interessante agora responder às perguntas levantadas no parágrafo inicial: existem pontos em comum entre esses três níveis e em que aspectos a Moda é ou não fútil? O ponto em comum a que chegamos é o fato de todos, em uma sociedade, serem obrigados a se cobrir com roupas sob pena de ‘atentado violento ao pudor”, caso descumpram essa lei. Outro ponto é a questão da pertinência da roupa de acordo com a cultura e ao local. Nenhuma pessoa de bom senso iria ao trabalho de sunga ou biquíni da mesma forma que nenhuma pessoa de bom senso iria à praia de terno e gravata. Mas só isso não é Moda, não é verdade? Porque se parasse por aí, não precisaria haver desfiles de Moda, novas tendências e estilos diferentes, afinal as roupas seriam sempre as mesmas, atemporais, mudando tão somente de acordo com a ocasião. Mas e as pessoas que expressam, ainda que não se dêem conta disso, através das roupas?

Chegamos, então, a um ponto interessante: aos grupos culturais identificáveis através da roupa. Dentre eles temos os religiosos (padres, freiras, muçulmanos, monges, etc) os de profissão (médicos, dentistas, enfermeiros) os de gostos parecidos (emos, punks, pagodeiros, fukeiros, rockeiros) todos, por mais diferentes que sejam, usam a roupa como símbolo e representação de um grupo, tanto é que logo os identificamos. Como eles podem pensar que a Moda é fútil se eles se utilizam justamente da roupa como uma forma de pertencimento a uma classe? Claro que eles poderiam pensar que estamos misturando alhos com bugalhos e que Moda não é isso, Moda é apenas aquilo que vemos nas passarelas, pessoas que ditam tendência, fashionistas que estão trocando de roupa e estilo de dois em dois meses, etc. Mas será que a Moda é apenas isso? Dessa forma, os grupos acima não se sentiriam pertencentes ao assunto e até o menosprezariam sob o pretexto que o que eles vestem não é Moda? Talvez os membros aqui intitulados como “os de gosto parecido” seriam os menos hesitantes em admitir que seguem uma tendência, uma Moda. Mas como convencer médicos, dentistas e até padres e monges da mesma coisa? Interessante, nesse ponto, é notar a simbologia das cores de acordo com a cultura e a visão de mundo dos povos. Em muitos países do oriente, por exemplo, a cor preta representa paz, enquanto o branco o luto. Será que se esses conceitos fossem dominantes em nossa sociedade, então médicos e enfermeiros, ao invés do branco, passariam a usar o preto como uniforme de trabalho? E a questão dos religiosos? A roupa que um padre usa hoje é a mesma de outrora? Por que o símbolo máximo da Igreja Católica, o papa Bento XVI, se veste com sapatos Prada? Seria ele um fútil?
As indagações levantadas acima, muito mais do que gerar polêmica, tem como objetivo mostrar que muitas pessoas e muitos grupos que condenam a Moda, chamando-a de fútil, na verdade, utilizam-se dela como aspecto fulcral para representarem seus ideais. E, sob esse prisma, como poderiam dizer que a Moda é fútil se eles mesmos fazem uso dela, ainda que sem saber disso?

O grande problema e a questão aqui levantada é que o terceiro nível da Moda (que engloba também os dois primeiros) não é percebido pela maioria das pessoas, muitas vezes nem pelos estilistas e muito menos pelos fashionistas ou pessoas do cotidiano. Dessa forma, o assunto fica relegado a um status de exibicionismo, de futilidade, e, de modo mais fatídico, ao capitalismo e ao lucro. Já o seu caráter de contestação social, de arte e manifestação cultural, de exposição de uma visão de mundo seja ela subversiva ou não – o que é a parte mais importante da Moda - não é identificado pela grande parte das pessoas. Daí então tudo fica muito bizarro: estilistas mostrando na passarela roupas consideradas esquisitas com modelos usando cortes de cabelo mais esquisito ainda. Pessoas pagando 600 reais em uma calça para ratificarem o seu status social dentro de um grupo. Pessoas “trendy”, que não sabem nem o que estão usando. Tudo muito bizarro, muito bizarro para os que vêem de fora. Fútil? Depende do nível.

Será que o Aquecimento Global se tornou rentável?

Começou, na terça-feira, em Copenhague, a reunião dos principais países do mundo em busca de saídas que possam brecar ou ao menos minizar o Aquecimento Global. Segundo alguns cientistas se nada for feito em 100 anos, o nível dos oceanos poderá subir em até um metro em comparação com o de hoje, o que já será o suficiente para trazer complicações a diversas cidades litorâneas, inclusive no Brasil. Esse aumento do nível dos oceanos é explicado pelas previsões de oscilação positiva em cerca de 3 graus da temperatura média da Terra até o final desse século. Caso isso ocorra, o desgelo na Antártida será mais acentuado, o que provocará a elevação dos oceanos. Além desses transtornos; furacões mais severos, grandes secas e enchentes, escassez de água, dentre outros, também poderão fazer parte do cotidiano do planeta. Diante das previsões alarmistas, duas perguntas merecem ser pensadas: a temperatura média da Terra está de fato aumentado e se está a causa é antropomórfica?

Há uma corrente enorme de pesquisadores que relacionam o início das atividades industriais ao aumento da concentração de CO2 na atmosfera (principal gás responsável por acentuar o efeito estufa). De fato, a concentração de CO2 atualmente é muito maior que a do século XIX ou de antes. No entanto, muito antes de se falar em aquecimento global, já houve uma quantidade maior de CO2 na atmosfera em comparação à década de 2000. (pouco antes da década de 50). Fala-se muito também que a década atual provavelmente será a mais quente da história (período de 2000 a 2010) o que se demonstra, no mínimo, como um equívoco. As décadas de 30 e 40 foram particularmente quentes em quase todo o planeta. Vários recordes históricos de calor no Brasil e no mundo datam dessa época e ainda não foram superados.

Outro fator importante a ser salientado diz respeito às catástrofes. Muitos cientistas dizem que a atividade ciclônica no Pacífico e no Atlântico nunca esteve tão alta. Contudo, Camille (um furacão de 1969) continua sendo o único a fazer o seu landfall (tocar a terra) nos Estados Unidos ainda pertencendo a categoria 5 da escala Saffir-Simpson (Katrina, por exemplo quando tocou terra já era de categoria 3). A temporada de 2005 que de fato foi bem acima da média, deu lugar a temporadas posteriores relativamente calmas (2006, 2007, 2008 e, principalmente 2009).

E o tão alardeado desgelo do Ártico no período 2007/2008? Sim, de fato houve um desgelo significativo no Ártico, talvez um dos mais significativos em 50 anos, porém existem mais dois dados que a mídia preferiu não comentar: o Ártico já havia passado por degelo semelhante na década de 30 quando ainda o assunto de aquecimento global não era sequer vislumbrado. Ademais, no mesmo período em oposição ao Ártico, a Antártida registrava cobertura de gelo recorde desde que comeraçam as medições, em 1979. Mas por que será que a mídia divulgou apenas a notícia mais alarmista e escondeu as outras informações que iam de encontro ao Aquecimento Global?

Um dos mais emblemáticos nomes da luta contra o Aquecimento Global, o ex-candidato democrata a presidência dos EUA, Al Gore, já faturou milhões com o seu documentário intitulado: "Uma Verdade Inconveniente". Esse documentário rendeu um Oscar a Al Gore e um prêmio nobel. No entanto, a "verdade inconveniente" é que alguns dados do democrata estão, na melhor das hipóteses, "descontextualizados". Digamos que o documentário mostrou apenas um lado da moeda, esquecendo de ouvir o outro lado, aquilo que no jornalismo nós chamamos de "parcialidade", "influência midiática", etc.


Teria o Aquecimento Global se tornado lucrativo? Já vemos empresas fabricando carros movidos a energia limpa, casas "eco friendly", a indústria do biocombustível ganhando força e todo um lucro capitalista por trás dessa possível catástrofe. Não que os cientistas não estejam bem intencionados, pois independentemente do planeta estar ou não se aquecendo nós devemos zelar por ele, pela nossa morada. Mas por que omitir dados importantes à população? Será que o Aquecimento Global se tornou de alguma forma rentável?

Para maior aprofundamento das idéias, peço que leiam o blog da MetSul Meteorologia (um grupo de meteorologistas renomados do sul do país que compartilham de visão parecida aqui exposta). O link para o blog é www.metsul.com

domingo, 29 de novembro de 2009

Adote essa idéia. Adote um ser humano!

Esse projeto nasce da idéia de chamar atenção das pessoas e autoridades em relação à pobreza e à indigência em nosso país. Somos 190 milhões de habitantes. Quantos de nós estão agora de barriga cheia? E os que estão de barriga cheia já pararam para pensar em quantos estão sem comida? Quantos morrem por dia no Brasil por má alimentação e até por falta de comida? E o que fazemos? Ficamos de mãos atadas assistindo pusilanememente essas mortes, como testemunhas oculares de um problema que poderíamos amenizar: a fome.

O dia do "Adote essa idéia. Adote um ser humano! consiste em cada um de nós nos responsabilizarmos por uma pessoa de rua, seja ela de qualquer idade pelo período de 24 horas, dando-lhes banho, roupa e comida. Sabemos que só isso não é necessário para acabar com a fome em nosso país, mas sabemos que com mais esforços e chamando a atenção de todos para essa causa podemos amenizar essa situação. Se salvarmos uma pessoa que seja desse mal terrível: a fome, já terá valido a pena.

Características: Movimento não partidário de caráter humanista
Datas e maiores detalhes a serem pensados ainda.

Juntem-se a nós!

Contatos: thiagolf_2005@yahoo.com.br
weatherboy1833@hotmail.com
Existem várias maneiras de se enxergar a pobreza no Brasil. O IBGE considera pobres famílias que tenham renda per capita inferior a meio salário minimo (232,5 reais), ou seja, menos de 930 reais de renda familiar para uma família de 4 pessoas.

O DIEESE, no entanto, discorda dessa classificação, em listas mensais, o instituto divulga o salário mínimo necessário para um chefe de domicílio sustentar uma família de 4 pessoas, segundo os preceitos da constituição do que deva ser o salario minímo e usados pelo DIEESE:

"Salário mínimo necessário: Salário mínimo de acordo com o preceito constitucional "salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim" (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV). Foi considerado em cada Mês o maior valor da ração essencial das localidades pesquisadas. A família considerada é de dois adultos e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um adulto. Ponderando-se o gasto familiar, chegamos ao salário mínimo necessário."

O salário minimo vigente é de 465 reais e o DIEESE no mês de outubro divulgou que o salário mínimo necessário para tais condições acima serem atentidas é de 2.085,89, ou seja, quase 4,5 vezes o salário mínimo atual. O mais chocante, no entanto, é saber que o salário mínimo atual não seria o suficiente nem para atender as demandas acima expostas de uma família de 4 pessoas em 1994 (Há 15 anos atrás).

Confrontando esses dados do DIEESE com outros que mostram a renda média dos lares brasileiros e a porção dos 50% mais pobres (que não chegam a ter rendimentos de 2.000 reais), constatamos que, se fossem aplicados os conceitos do Dieese, mais de 50% dos brasileiros seriam considerados pobres.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Perseguição às avessas

Desde as civilizações mais antigas (Egito, Fenícios, Sumérios, etc), a preocupação com a aparência física era importante. Essas sociedades, que já eram estratificadas, viam cada classe social se comportar de uma forma, vestir um determinado tipo de roupa ou um determinado tipo de ornamento que os identificavam pertencentes àquela classe social. Essa diferenciação de vestimentas acompanhou as mais diversas sociedades que temos notícias. Embora muitas divergissem totalmente em relação às crenças e aos costumes, as roupas – de maneira quase uníssona - eram capazes de dizer a qual estrato social pertenciam um indivíduo.

O Império Romano, o Império Grego, passando para a Idade Medieval e adentrando às Idades Moderna e Contemporânea (época em que de fato se estabeleceu o que entendemos de moda atualmente) podemos notar uma certa exclusão na maneira de se vestir: as classes sociais mais abastadas usavam roupas consideradas mais nobres, ao passo que as mais baixas usavam roupas de tecidos menos nobres e, muitas vezes, tentavam imitar os trajes dos que estavam no topo da pirâmide social. E quando, finalmente, tinham acesso àquele tecido ou se chegavam a resultados bem verossímeis, as classes mais altas, então se desinteressavam por aquela roupa e partiam para outra. Era uma perseguição às avessas (em que os ratos perseguiam os gatos e quando finalmente os visualizavam, então os gatos partiam para novas aquisições e assim a luta incessante continuava: ratos atrás dos gatos).

No final do século XIX, eis que surge uma das invenções mais uníssonas da moda (não em um primeiro instante, obviamente): o jeans. A priori, o jeans era relegado às categorias de trabalhadores. Uma senhora distinta das classes média e alta jamais usaria esse traje. E isso perdurou até meados do século XX. Aos poucos, a partir da década de 50 e 60 e mais fortemente nas décadas de 70 e 80, o jeans não só foi incorporado por todas as classes sociais, como também virou peça praticamente indispensável na maioria dos guarda-roupas das culturas ocidentais. Desse modo, o jeans talvez tenha sido uma das primeiras peças a atingir esse caráter universal e com mais um dado interessante: não foi uma roupa que veio de cima para depois ser incorporada pela camada de baixo, ao contrário: o jogo de gato e rato havia se invertido. Outrora era o rato que perseguia os gatos, mas agora não, o sistema estava fechado: o gato perseguindo o rato. Como o gato poderia manter o seu status se parecia que a briga às avessas havia cedido e cada vez mais os ratos tinham acesso ao que era dos gatos?

Entramos então numa nova fase de diferenciação: o surgimento das grandes grifes (que começou ainda no final do século XIX e se consolidou de fato no século XX). O importante, nesse instante (principalmente após os anos 70), não era mais o tipo de roupa que se usava, mas sim a grife. Essas lojas priorizavam o corte impecável, modelos quase exclusivos (quando não exclusivos) e o prêt-à-porter, introduzido pelo estilista Yves Saint Laurent. Essa foi a saída encontrada pelo gato para escapar da perseguição do rato. Cada vez mais, as lojas especializadas em um público de perfil abastado criavam inovações, designs arrojados e novas idéias. Mas os tempos eram outros: as lojas de conceito “fast fashion” estavam sendo criadas e essas tinham uma agilidade enorme na “releitura” das tendências para disponibilizá-las para a camada menos abastada da população. Gradualmente, surgiram várias lojas com esse conceito do “fast fashion”: Zara, H&M, MeXX e, em uma escala menor a própria C&A. Haveria, enfim, terminado a perseguição do rato ao gato?

De um certo ponto de vista sim. Seria uma visão muito ortodoxa acreditar que os abismos de outrora continuavam os mesmos. Como percebemos o que ocorre atualmente é que já não existe uma enorme diferença no modo de se vestir em relação à classe social (embora, indubitavelmente ainda exista). Prova disso, é que se antes, em outras civilizações, podíamos identificar claramente a que estrato social uma pessoa pertencia só pelas roupas que ela vestia, hoje, essa identificação é muito mais difícil, por vezes, identificável. Contudo, se a perseguição tivesse finalmente chegado ao fim, nada justificaria um jeans sair por 60 reais em uma loja fast fashion e outro sair por 600 reais em uma grife. Por mais que a lavagem seja diferenciada, por mais custoso que possa ter sido o jeans de 600 reais, certamente existe nele um grande valor agregado: o valor da marca. E se há muitas pessoas que pagam por ele – prova disso é a constante expansão do mercado de luxo, não só em países ricos, mas principalmente nos países emergentes – significa que ainda há gatos (e muitos) fugindo da perseguição dos ratos. Mas quais seriam os argumentos utilizados pelos gatos para pagar tanto?

Os argumentos principais são a exclusividade, melhor qualidade da roupa, melhor corte. De uma maneira geral, quando uma loja coloca um jeans de 600 reais para ser vendido, ela já fez o seu nome no contexto nacional ou internacional. E para competir com as redes de fast fashion (cada vez mais procuradas), há a necessidade inexorável de a grife estar constantemente aprimorando a sua qualidade, o seu corte, fazendo com que as pessoas, ao dar dez vezes a mais em um jeans tenham a garantia da qualidade daquela peça. Porém, até que extensão os argumentos utilizados pelos gatos são de fato integralmente verdadeiros? Em suma: ainda que o jeans de 600 reais possa ser melhor que o de 60, até que ponto ele de fato o é para justificar uma diferença de 10 vezes mais?

Nesse meandro conturbado entre a justificação dos gatos e a realidade dos fatos percebemos duas questões: sim, de fato um jeans de 600 reais de uma grife já com renome internacional, tende (EU DISSE TENDE) a ser de melhor qualidade do que um de 60 reais de uma rede de fast fashion. Todavia, uma diferença de 10 vezes mais parece injustificável e desproporcional. Entramos então na segunda questão: estariam esses gatos usando essas grifes (para além do já citado fato de elas possuírem qualidade) a fim de tentar mais uma vez fugir dos ratos? Em outras palavras, quando se paga 600 reais em um jeans, por mais qualidade que ele tenha, também não está implícito aí uma questão de status, de poder? E essa não seria uma forma mais sutil, porém ainda uma forma de alijar os gatos dos ratos? Nesse âmbito, até que ponto, a perseguição do rato em relação ao gato chegou ao fim?